A banda gaúcha Losna, atualmente, vem divulgando seu mais recente álbum de estúdio, intitulado “Another Ophidian Extravaganza”, lançado pelo selo parceiro UGK Disccos em 2015. Agora em 2017 a banda completa 20 anos de atividades ininterruptas e com uma formação estabilizada desde 2004, contanto com as irmãs Débora (guitarra, vocal) e Fernanda Gomes (baixo, vocal) e Marcelo Índio (bateria). E em todos esses anos de atividades em nenhum momento a Losna cogitou de “adocicar” sua sonoridade, pelo contrário, está mais amarga e agressiva do que nunca! Um pouco mais sobre a atual fase da banda, novo disco e planos futuros a seguir... Recife Metal Law – Vocês divulgaram “Distilling Spirits” (UGK Disccos, 2011) por quatro anos, antes do mais recente álbum. Quais foram os principais percalços encontrados para divulgar aquele álbum e quais as metas que a Losna conseguiu alcançar com ele?
Losna – Não tivemos percalços significativos, mas ficamos um tanto decepcionados com alguns convites para shows que depois acabaram não acontecendo. Já, por várias vezes, ocorreu de “fecharmos” com algum simpático organizador de evento e conforme “vai se aproximando” da data marcada para o show a carismática figura desaparece e nada do espetacular convite se concretizar. Mas entendemos que isso possa não ser exatamente culpa “do organizador”, mas sim, falta de verba. É a maldita grana que tanto falta ao brasileiro em geral... (risos) Bom, podemos estender esse comentário à América Latina toda. Quantos lugares que gostaríamos de ter visitado para “promover” o álbum, apareceram “interessados”, mas... “Não deu”! Há de se ter autopropulsão monetária na falta de mecenas generosos. Mas temos muito orgulho do que conquistamos com o “Distilling Spirits”. Podemos analisar que as próprias mídias sociais são muito eficientes para atingir os integrantes do cenário Underground. Mesmo sem ter um aparato muito sofisticado, conseguimos assim “cruzar o mundo”.
Recife Metal Law – Como não poderia deixar de ser, se ouvindo os álbuns da banda, na sequência, se nota uma evolução natural. Como vocês comparam a atual fase da Losna, comparando com o seu início?
Losna – Gostamos dessa sugestão: é evolução natural, sem artificialismos! Orgânica!
Recife Metal Law – O novo álbum recebe o título de “Another Ophidian Extravaganza” e sua capa segue a linha de arte dos trabalhos anteriores, ou seja, trazendo imagens de serpentes. De onde surgiu esse interesse por serpentes e qual a razão para as retratar sempre nas capas dos álbuns?
Losna – É apenas um apreço a todo o simbolismo que desperta através desse réptil maldito. Mas não temos nenhuma influência ou patrocínio do David Icke. É mera coincidência. (risos)
Recife Metal Law – Uma curiosidade: o novo álbum conta com 11 músicas, assim como ocorreu com os dois álbuns anteriores. Coincidência ou premeditado?
Losna – Premeditado, sem dúvida! É o enigmático e profético número 11.
Recife Metal Law – A parte lírica fala de diversos temas. Os títulos das músicas, de cara, não retratam de forma direta o que cada letra fala. Exemplo disso é “Feronia”. Há alguma ligação da letra com Feronia, uma antiga religião romana?
Losna – Stregheria! Da antiga religião dos povos Etruscos, da região que hoje é a Itália! Em todos os álbuns fazemos alguma citação às divindades “etruscas”. Feronia é a “deusa etrusca que protege a liberdade dos homens, a vida nas florestas e as cabanas aos pés das montanhas”. No “Distilling Spirits” evocamos Lupercus na faixa “The Fire of Purification”, ele é o “deus lobo da agricultura”, um chifrudo. No “Wild Hallucinations” temos a música “Cloacina”, ela é a “deusa etrusca de tudo que é sujo e obsceno”. E não nos esqueçamos da Losna, a deusa da Lua! Aliás, crescemos bebendo licor Strega! Delícia elaborada com ervas! Isso pode ter nos influenciado. Além disso, temos um ‘pezinho’ na Itália.
Recife Metal Law – Já o final de “Immiscible Pleasures” traz uma citação à Síndrome de Pollyanna. A letra tem ligação com o livro ou com o lado psicológico da síndrome?
Losna – A letra faz alusão à Síndrome de Pollyanna realmente. É porque para manter otimismo e esperança é necessário ou ser completamente louco ou um pouco ‘brazuca’. (risos)
Recife Metal Law – A letra de “Project 971” é bem interessante e sua mensagem principal, a meu ver, fala de escolhas, sobre lutar ou desistir e rastejar. O que é o Projeto 971?
Losna – Esse Projeto 971 se trata dos submarinos da classe Akula. Eles são discretos, silenciosos, espetaculares. Não convém subestimar ou tentar negar a existência de um Antonov ou de um RD-180, porque eles não são apenas lendas de um passado distante.
Recife Metal Law – Os versos de “Mesmerized by Rotten Meat” formam um acróstico, inclusive a banda deu uma ênfase, e esse acróstico formou a frase “Amor Só De Mãe”. Há alguma razão especial para a formação desse acróstico nessa música?
Losna – Sim, porque aquela vítima acreditou num amor de outro tipo. Só que o seu algoz teve sempre por convicção o “Amor Só De Mãe”.
Recife Metal Law – A letra de “No Time For Romance” fala sobre desejos sexuais de uma mulher. Mesmo em tempos atuais, falar sobre tal tema, para uma mulher, é um grande tabu. Vocês já tiveram algum tipo de problema com o tema abordado nessa música?
Losna – Não concordamos que esse tema seja tabu, ainda mais que está baseado na obra de Clive Barker (“The Hellbound Heart”) e nos filmes do “Hellraiser”. Esse tema é bem ‘normal’ entre os cenobitas.
Recife Metal Law – “Back to the Grotto” foi a música escolhida para ser o primeiro clipe do novo álbum. O clipe é muito bem cuidado, inclusive trazendo uns efeitos especiais bem interessantes. A escolha da música para o clipe se deu pelo conteúdo de sua letra ou o motivo da escolha foi outra?
Losna – Sim, a escolha pela “Back To The Grotto” foi mais pela parte lírica mesmo. Queríamos expor toda aquela mutação reptiliana de forma icônica. E foi Renato Souza, da Chama Vídeo Independente, que soube traduzir isso de forma artística e direta ao mesmo tempo. Mas a responsável pelos efeitos especiais, ou seja, criadora da maquiagem e máscara reptiliana foi a talentosa e brilhante maquiadora Rachel Fritsch. O mérito de dar vida ao personagem reptiliano é todo dela.
Recife Metal Law – O álbum foi gravado, mixado e masterizado no Estúdio 1000, sob os cuidados de Fábio Lentino, ex-Nephasth. Sendo Fábio ex-integrante de um dos grandes nomes do Death Metal gaúcho, ele, de alguma forma, influenciou na musicalidade desse novo álbum, com alguma ideia?
Losna – Curtimos o trabalho do Lentino justamente por ele já estar adaptado com toda a sonoridade e atmosfera de um som pesado, agressivo e Underground. Ele sabe exatamente aonde pesar mais o som, já é instintivo dele.
Recife Metal Law – Eu percebi que a musicalidade do novo álbum vem bem Thrash Metal. Talvez seja o álbum mais Thrash Metal da Losna. Seguir essa sonoridade já era uma meta da banda no processo criativo do álbum?
Losna – Tudo ocorre de forma natural quando compomos, nada premeditado. Nada tendo que soar dessa ou daquela maneira. Claro que o Thrash talvez seja uma das principais influências da Losna, mas é muito difícil rotular nosso som.
Recife Metal Law – A parceria com a UGK Disccos vem desde o álbum de estreia. A distribuição dos discos da Losna é feita apenas pelo selo ou a banda também trabalha esse lado? E pelo mundo, o nome da banda tem chegado a muitos países?
Losna – Sempre fomos fãs do trabalho do grande guerreiro Marivan Ugoski na cena Underground, por isso damos prioridade para que os álbuns da Losna saiam pela UGK Disccos, até que surja um contrato milionário com alguma gravadora. (risos) Também temos apoio de distros que nos ajudam com a distribuição dos CDs pelo mundo afora. A G.U.C da Alemanha, a Cold Winds Corporation do Rio Grande do Sul e Metal Music Colecionismo Dungortheb de Minas Gerais, são alguns de nossos apoiadores. Além disso, contamos com a assessoria de imprensa da Metal Media, que auxilia na disseminação da Losna.
Recife Metal Law – A Losna completa duas décadas de atividades e, salvo exceções, bandas gaúchas concentram seus shows no sul/sudeste do país. Quais os fatores que fazem com que a Losna não toque em outras regiões do país?
Losna – Vontade não falta de poder tocar em todas as regiões do país. O grande problema é que só a boa vontade não faz girar a máquina, é preciso azeitá-la e energizá-la com grana. A carência disso é o que nos engessa. E isso serve para todos os envolvidos, seja para as bandas do sul que querem ir pro norte/nordeste e vice-versa, como já diria o nosso falecido “Tio Bill”.