Belchior, ‘one-man-band’ capitaneada por Antonio Belchior de Melo, músico de naturalidade pernambucana, mas que atualmente se encontra com suas raízes fincadas em solo Norte-Americano. Apesar de surgido em 2006, o projeto, até a presente data, só tem dois materiais lançados, sendo uma Demo e o ‘debut’ álbum, lançado em 2015. O músico já se encontra em estúdio finalizando o seu novo álbum, que virá com diversas novidades, como o próprio músico revela na entrevista a seguir. Além das novidades, Belchior também falou sobre o surgimento do projeto, passagens por outras bandas, entre outros tópicos. Recife Metal Law – O projeto Belchior surgiu em 2006, no ano seguinte lançando a Demo “I Despise Jesus Christ”. Primeiramente, como surgiu a ideia do projeto? Já havia composições tua com a necessidade de serem gravadas?
Belchior – A Belchior começou como banda, pelo menos esse era o meu plano no início. Após várias mudanças na formação eu deixei o projeto de lado, pois estava gravando com a Forever’s Fallen Grace (banda que tocava um Doom muito bom, mas que nos dias de hoje resolveu se aventurar nos campos do Power Metal) e não dava tempo para manter dois projetos ao mesmo tempo. Nessa época minha filha tinha acabado de nascer e eu estava em processo de mudança para outro estado (Carolina do Sul) e usei o tempo livre que tive pra finalizar a Demo da Forever’s Fallen Grace. Sim, eu já tinha composições minhas desde o início de 2000, mas só decidi gravar duas delas em 2006, na Demo “I Despise Jesus Christ”, e as contidas no meu primeiro CD também foram feitas na mesma época, mas sofreram mudanças significantes com o passar do tempo, provavelmente porque comecei a me entender melhor como compositor e produtor.
Recife Metal Law – Tu és pernambucano, natural da capital, mas o Belchior é originário dos EUA. Fazer esse tipo de trabalho, fora de teu país natal, gerou algum tipo de dificuldade?
Belchior – Não. Acho que para o tipo de trabalho que executo (‘one-man-band’) a minha vinda para os EUA foi crucial. Eu nunca tive grana para bancar meu estúdio no Brasil, e nunca tive acesso a nenhum instrumento decente. Eu sabia que a única maneira de tornar a Belchior possível, e de forma rápida, seria me mudar para um lugar onde esse tipo de equipamento fosse mais acessível para mim. Posso dizer que a existência da Belchior no Brasil seria muito difícil, então digo que não só foi muito mais fácil de fazer o lance acontecer aqui, como também provavelmente nunca teria acontecido aí no Brasil.
Recife Metal Law – Antes do Belchior, seu mentor passou por bandas como Infected, Elizabethan Walpurga, Forever’s Fallen Grace, Sküll Hammer, e em todas como baterista. Cada banda dessa tem um estilo diferente. Para a sonoridade de teu projeto, houve algum tipo de influência dessas bandas?
Belchior – Cara, eu te falo que a Infected foi a banda que despertou meu interesse, não só pela música extrema, mas tambem por produção e gravação. Foi com a Infected que sempre me senti na necessidade de me superar, fosse na velocidade como também técnica. As outras bandas foram apenas passagens que rolaram pela minha necessidade de tocar e por muitas vezes gostar da música que eles faziam. Na Elizabethan Walpurga foi mais uma experiência que eu queria fazer. Na verdade eles tocavam Death Metal (com Murilo Nóbrega, ex-Decomposed God, na bateria e Rogério Mendes, ex-Infected, ex-Decomposed God, no vocal). Eu já estava tocando Death Metal na Infected e fazia muito tempo que estava querendo fazer um lance mais na linha Black Metal (desde quando saí da Darkness Emperor); quando substitui o Murilo eu já no início modifiquei o estilo da banda trazendo uma bateria mais voltada para o Black Metal como também do Metal Clássico, que é, na minha opinião, a melhor vertente do Metal (Cirith Ungol, Manilla Road, Running Wild, Accept, Judas Priest...). Com a saída do Rogério eu comecei a procurar por vocalistas que deixassem a música ainda com mais identidade Black Metal. O primeiro foi o Sérgio Melancia, que não aconteceu por motivos que não me lembro agora, daí resolvi convidar o Mal’lak, que já havia tocado comigo no início dos anos 90, quando formamos a Darkness Emperor, com isso a formação da Elizabethan Walpurga como uma horda de Black Metal estava completa. Todas as outras bandas que toquei, especialmente nos EUA, não chegaram a fazer nenhuma diferença notável, ou influenciaram meu trabalho em nenhuma forma. Outro grande motivo para eu me afastar das outras bandas que eu estava tocando foi a falta de tempo para me dedicar a projetos mais importantes e pessoais que devem sair ainda este ano e que necessitam mais atenção e trabalho.
Recife Metal Law – Atualmente tu fazes parte da banda canadense The Projectionist. A banda faz Black Metal, assim como o teu projeto. Como se deu a tua entrada nessa banda e como tu estás conciliando as coisas, já que o The Projectionist é do Canadá?
Belchior – O The Projectionist é um lance da cabeça do Russ Drury, vocalista (acho que agora é ex-vocalista) da banda de Black Metal canadense Idolatry. Eu o conheço já faz algum tempo e sempre quis fazer algum trabalho com ele. Assim que finalizei o CD da Belchior já fui logo gravando a bateria do primeiro álbum da The Projectionist. Com eles (The Projectionist) eu gravei o primeiro álbum e quatro músicas do novo CD. Infelizmente, com as gravações do primeiro CD da Infected em andamento eu precisei parar todos os outros trabalhos e me dedicar exclusivamente às gravações com a Infected. Eu e o Jorge José dividimos todos os instrumentos e vocais, então o processo é um pouco parecido com o de ‘one-man-band’, só que com um músico do calibre do Jorge trabalhando com você a parada fica muito mais fácil (e melhor). Um fato interessante é que nunca nos falamos pessoalmente; a banda foi produzida separadamente nos ‘home studios’ de cada integrante e, por fim, mixado pelo Matt (Diabolus Amatour) no seu estúdio em Austin, Texas.
Recife Metal Law – Em 2015, ou seja, oito anos após o lançamento da Demo, tu fizeste o lançamento do primeiro álbum, homônimo, do Belchior. Quais são as principais diferenças entre o álbum de estreia e a Demo, em tua visão?
Belchior – A maior diferença foi o meu amadurecimento como músico e produtor. Na Demo eu ainda não sabia como fazer para gravar todos os instrumentos (precisei, inclusive, de ajuda para gravar as guitarras da Demo) e o meu estúdio era muito precário. Após a Demo surgiu o interesse do meu ‘brother’ Hellhammer (Lord Blasphemate) em produzir o meu primeiro CD, como também o primeiro CD do selo Ordo Draconian Black Label, respectivamente, do Hellhammer. Com isso eu resolvi fazer um investimento maior no meu equipamento e foi com esse equipamento que produzi o meu ‘debut’.
Recife Metal Law – Toda a parte instrumental, além dos vocais, foi feita por tua pessoa. Em algum momento você cogitou convidar alguém para gravar algum instrumento ou até mesmo alguma parte vocal no álbum de estreia, já que havia ocorrido isso com a Demo, quando foi convidado o guitarrista Kevin Blakey?
Belchior – Eu convidei o Kevin por necessidade. As gravações da Demo foram feitas meio que ao vivo e sem marcação de tempo, então eu precisei de alguém para fazer a gravação (bateria/guitarra) possível e depois fiz o restante (baixo, vocais e mais guitarras). No meu próximo álbum eu estou contando com o backing vocals do Diego DoUrden (Infested Blood e Mystifier), como também do Russ (The Projectionist e Idolatry) no cover do Running Wild, “Evil Spirit”. Outra mudança no meu novo álbum é que eu continuo gravando todo o instrumental, mas vou deixar os vocais a cargo de um cara que eu aprecio o trabalho pra cacete e foi com muita satisfação que fechamos essa parceria (so não posso falar quem é o vocalista no momento; estamos ainda nas fases iniciais de colocar vocais e compor letras e vou esperar um pouco mais para divulgar a identidade desse demônio).
Recife Metal Law – Quando se fala em Black Metal, se espera logo uma banda agressiva e com instrumental veloz, mas o Belchior, apesar dos vocais ríspidos, flerta com andamentos mais cadenciados e até mesmo algumas viagens astrais, como ouvido em “Kingdom of the Midnight Arts”, que ainda traz uma bateria marcial. Ao fazer a música para o Belchior, como o seu mentor as imagina?
Belchior – Eu imagino minha música da maneira que gosto de ouvir música; quero uma música com mais emoção que técnica. Dor, ódio, sofrimento, frio, desolação e depressão são as forças que motivam minhas músicas. Eu não sou um grande apreciador de bandas de Black Metal modernas; eu sou de um tempo onde Black Metal era Venom, Bathory, Hellhammer, Kat, Tormentor, Mayhem, Master’s Hammer... Eu não tenho nenhuma influência das bandas da Noruega ou da Segunda Onda do Black Metal.
Recife Metal Law – Entre as músicas próprias, existe um cover para “Beelzebuth” do Mystifier. O que te levou a gravar essa música para o disco de estreia?
Belchior – Simples, o Mystifier é uma banda que eu sempre gostei pra caralho! Eu e o Mal’lak (Elizabethan Walpurga, Lord Blasphemate, Darkness Emperor) quase furamos o LP dele no início dos anos 90, e eu sabia que quando eu gravasse um CD iria contar com um som deles. Só não sabia exatamente qual música escolher e foi difícil, mas acho que a escolha funcionou bem, especialmente para meus vocais.
Recife Metal Law – O ‘debut’ foi totalmente gravado em teu estúdio, e apenas a mixagem e masterização contou com o suporte de Michael Ferro. Por que mixagem e masterização também não foram feitas exclusivamente por tua pessoa?
Belchior – Eu cheguei a um ponto que já não sabia qual mixagem escolher. Eu me envolvi por muitos meses na gravação do CD e acho que rolou um lance de saturação e precisei da ajuda do meu grande amigo e ‘Metal brother’ Mike Ferro (vocalista da Forever’s Fallen Grace) para fazer a gravação soar como eu imaginava, e ele foi de uma ajuda gigantesca.
Recife Metal Law – A parte gráfica veio bem simples, com informações diversas, porém sem trazer as letras das músicas. Isso foi uma opção?
Belchior – Sim, foi uma opção. Eu queria o CD o mais simples possível. Quase que sai apenas com uma folha na capa, mas o Hellhammer me conveceu a fazer capa com duas folhas. O novo CD da Belchior contará com letras e também uma arte muito doentia que vai atormentar muito cristão escroto.
Recife Metal Law – Mesmo sendo um projeto originário dos EUA, “Belchior” foi lançado por um selo brasileiro, Ordo Draconian Black Label. Como surgiu essa parceria?
Belchior – Eu perguntei para o Sávio “Hellhammer” se ele já havia sacado a minha Demo; ele falou que não e me pediu para que eu passasse a Demo pra ele. No outro dia, pela manhã, eu tinha três mensagens do Hellhammer me perguntando se eu queria gravar um full. Eu aceitei e tudo foi muito natural e profissional. O Sávio é um cara 100% e com certeza o maior apoio que ja tive no Underground.
Recife Metal Law – E nos EUA, como vem sendo a divulgação do material? Tu tens suporte de algum selo daí?
Belchior – A divulgação tem sido muito boa. Meus CDs já esgotaram aqui nos EUA já faz mais de um ano e estou nesse momento negociando uma nova prensagem por um selo da Alemanha. Tenho suporte, na realidade, muito maior por parte das distros que dos selos, sem elas o lance seria muito dificil, ainda pior para os músicos que fazem trabalhos tipo ‘one-man-band’.
Recife Metal Law – Foi divulgado que um novo trabalho do Belchior, um EP intitulado “Inferno”, seria lançado ano passado, mas até agora não tivemos mais informações sobre esse lançamento... Há alguma novidade?
Belchior – Eu gravei o CD novo da The Projectionist em janeiro deste ano, logo em seguida foram iniciadas as gravações do primeiro CD da Infected, que conta apenas com composições novas e inéditas (não teremos nada regravado das Demos, como foi cogitado em webzines, rádios e outros) e influenciadas por muitos estilos, nao apenas Metal. O novo CD da Belchior sai ainda esse ano e, além de ser um full lenght, vai contar com um grande nome do Metal Nordestino nos vocais.