O nome Rigor Mortis é bem comum no meio Heavy Metal, principalmente no que se refere à bandas de Death Metal. Tendo em vista alguns problemas, a banda brasileira Rigor Mortis decidiu por adicionar o “BR” a sua nomenclatura e continuar com sua jornada, que teve início no começo da década de 90. Mesmo começando suas atividades no início de 1990, a banda passou um período inativa e tendo apenas a sua frente o guitarrista Alexandre “Rigor Mortis”, que reformulou à banda e em 2016 lançou seu álbum de estreia. E sobre esse lançamento, primórdios da banda, amor ao Death Metal e aos temas relacionados à morte, saberemos um pouco mais nas palavras do fundador. Recife Metal Law – A banda teve seu início nos anos 90 e até 2015 manteve-se com o mesmo nome. Vocês chegaram a ter problemas com uma das muitas bandas como o nome Rigor Mortis, mas com relação as demais bandas com o mesmo nome, vocês tiveram algum tipo de contato?
Alexandre “Rigor Mortis” - Na verdade eu só conheci pessoalmente uma Rigor Mortis, que mais tarde se tornou a banda Immolation. Nós nunca tivemos problemas com o nome até 2012, quando um selo do exterior propôs que nós lançássemos um full lenght por eles. Eles queriam bancar esse lançamento e na mesma época eles estavam lançando o álbum da Rigor Mortis (Texas/EUA) que detém os direitos autorais do nome. De alguma forma a banda ficou sabendo e abriu um processo contra nós. Mas tudo foi resolvido.
Recife Metal Law – Quem foi o Rigor Mortis da década de 90 até antes do lançamento de seu primeiro álbum de estúdio (e mudança do nome)?
Alexandre - Na verdade não houve uma mudança no nome. Somente um acréscimo do BR para designar (do Brasil). A Rigor Mortis foi exatamente a mesma banda de hoje, fazendo exatamente a mesma coisa, tocando Death Metal com vertentes técnicas. Nunca fomos adeptos ao estilo ‘old school’, mas sempre buscando um Death Metal Brutal com temática voltada à morte. Tocamos o mesmo estilo desde 1992. É claro, o músico está sempre progredindo tecnicamente e musicalmente.
Recife Metal Law – O único membro original da banda é o guitarrista Alexandre “Rigor Mortis”, e diversos outros músicos, no decorrer dos anos, passaram pelo grupo. Sabemos que no meio Heavy Metal, ainda mais no Underground, as trocas de integrantes são inevitáveis. Mas o que ocasionou tantas mudanças no Rigor Mortis?
Alexandre - A formação original se manteve intacta até a banda parar em 1998/99. As mudanças na formação começaram quando eu tentei voltar com a banda novamente. O principal motivo foi o fato de eu não conseguir encontrar músicos que compartilhassem exatamente da minha forma de pensar musicalmente. O que me fez colocar a Rigor Mortis na ativa foi tão somente o fato de eu encontrar músicos que compartilham do mesmo gosto e da mesma maneira de abordar o Death Metal que eu. Não quero uma banda híbrida, com várias vertentes, com cada músico falando uma língua. Quero uma banda uníssona na sua forma de fazer música. Para tu ter uma ideia, quando fui reagrupar a banda novamente eu cheguei a fazer audição com 13 baixistas antes de escolher o Christian.
Recife Metal Law – Na década de 90 o Heavy Metal, em geral, teve uma grande baixa, sendo encoberto pelo Grunge. O Death Metal foi um dos estilos que começou a dar a reviravolta nessa situação. Assim sendo, por que o Rigor Mortis não acompanhou essa nova ascensão do estilo, com lançamentos e uma formação estabilizada?
Alexandre - Bom, eu não sei como foi aqui no Brasil, mas lá fora a coisa foi exatamente ao contrário. Ninguém queria ouvir falar em Death Metal. Parecia que a cena estava saturada. Todo mundo (público, gravadora, promotores de eventos) só queriam saber de bandas de Black Metal. O Black Metal estava na sua plenitude em meados de 90. Estava se amadurecendo como estilo musical. E cada vez mais apareciam sub-estilos (Sinfônico, Raw,War, Depressivo, etc.). Foi uma década em que o Black Metal cresceu e se desmembrou, amadureceu e a coisa parecia nunca acabar. A única maneira era continuar a tocar o estilo e deixar o tempo passar. A grande maioria das bandas antigas e pioneiras do Death Metal apenas continuaram a fazer o que sempre fizeram, mas sem ter muita atenção do público. Somente contando com seus antigos fãs. Vi muita gente e até amigos meus perderem o interesse totalmente e para sempre no Death Metal na década de 90. Muitas e muitas bandas de Black Metal surgiram e pouquíssimas de Death Metal apareceram e a maioria ficou no esquecimento, somente reaparecendo na década seguinte. Vi bandas como Cannibal Corpse, Hypocrisy, perdendo fãs para bandas como Marduk. Até hoje não entendo esse tipo de coisa. Somente bandas de Death Metal que mantinham algum cunho satânico (letras, modo de vestir, capas dos álbuns) ou bandas de Blackned Death Metal é que conseguiram sobreviver a década de 90 e manter uma razoável ascensão, como Morbid Angel, Deicide. Para bandas que estava apenas começando, como nós, restava sentar e assistir a tudo isso. As pessoas haviam perdido o interesse por qualquer coisa que tivesse muitas notas, fosse muito técnico ou tivesse um vocal gutural. Foi a década do Black Metal.
Recife Metal Law – “The One Who…” é o primeiro full length da banda, contendo 10 sons de puro Death Metal. O que é ouvido nesse álbum é o que o Rigor Mortis queria transmitir, ao ouvinte, musicalmente?
Alexandre - A princípio queríamos mostrar a nossa cara de forma nua e crua. Mostrar como “nós” vemos o Death Metal. Geralmente existe uma preocupação em buscar referência para tentar criar uma identidade forçada em quem vai ouvir já de cara pelo medo de rejeição. Nós fizemos exatamente o contrário. Não queríamos soar como banda tal e tal. Queríamos que fosse o som da Rigor Mortis BR. Acho que a melhor forma de saber como somos musicalmente é ouvindo o que o público está dizendo sobre o álbum. Então posso lhe dizer que somos uma banda que toca o Death Metal de forma Brutal e técnica.
Recife Metal Law – Toda a parte instrumental do disco foi composta pelo guitarrista Alexandre, enquanto que as letras foram escritas pelo vocalista Leafar Sagrav. Qual foi a contribuição, na parte de construção musical do álbum, do baixista Christian Peixoto e do baterista Rubens Potrich (que não está mais na banda)?
Alexandre - Bom, a contribuição do Christian foi sua técnica e precisão. Exatamente o que eu precisava para fazer o álbum. Posso dizer que sem ele não teríamos feito o álbum da forma que eu queria e isso fica bem óbvio quando se ouve suas linhas de baixo. O Rubens compôs toda as grades de bateria do álbum. Tudo ali é dele. Ele só me mandava as grades para ver se eu estava de acordo, se havia gostado, eventualmente mudávamos algo aqui outra ali, mas toda a composição de bateria é dele. Eu não precisei sentar e escrever as partes da bateria. Foi um trabalho muito fácil, pois os músicos eram certos e escolhidos a dedo.
Recife Metal Law – A temática lírica segue uma linha mais gore, sobre morte, homicídios, tortura… Para uma banda Death Metal esse é um tema corriqueiro. Foi por isso que vocês decidiram seguir essa linha lírica?
Alexandre - Acho que quem gosta de Death Metal gosta desse tema. Não me vejo tocando uma música que fala de outra coisa. Não sei quem vem primeiro, se o gosto pela morte nos leva ao Death Metal ou o Death Metal nos leva a gostar da morte. Por isso se chama “Metal da Morte”. Isso vem dos primórdios do Death Metal. Se você ouvir bandas que começaram o estilo (Dismember, Pungent Stench, Gorefest...) e até bandas atuais como Necrophagist, Dying Fetus, Suffocation, não importa a época, o tema será sempre morte no Metal da Morte. Seria como uma banda tocar Black Metal sem falar sobre satanismo, rituais macabros... Não curto a linha que o Nile faz com letras épicas. Parece que não estou ouvindo Death Metal. Outro motivo é que tanto eu como o Leafar (vocal) gostamos do assunto. O tema morte me fascina desde minha infância. Quando tinha seis anos de idade eu achei um feto em um mato, provavelmente de um aborto e o guardei dentro de um vidro dentro de meu guarda-roupa até o dia em que minha mãe o encontrou. Eu tinha uma coleção de sapos e lagartixas mortas que eu guardava dentro de uma caixa de sapato para brincar escondido.
Recife Metal Law – Entre as músicas contidas no álbum, duas delas foram escritas em nossa língua pátria. Por que escrever “Dialeto de Morto” e “Febrônio Índio do Brazil (O Filho da Luz)” em português?
Alexandre - Porque eu componho a música e já me vem um nome na cabeça e aí entrego para meu vocalista uma música já com nome para ele desenvolver a letra. A “Dialeto de Morto” eu não via de outra forma. Ela me veio assim na cabeça; com esse nome. Já o “Febrônio Índio do Brazil (O Filho da Luz)”, como o objetivo era falar sobre esse ‘serial killer’ brasileiro, eu achei que faria mais sentido colocar o nome da música em português e não em inglês; mas Leafar poderia ter desenvolvido a letra em inglês se ele quisesse.
Recife Metal Law – A produção, mixagem e masterização de “The One Who…” ficou a cargo do próprio guitarrista Alexandre e foi feita no Dark Medieval Times (estúdio de ensaio e gravações). Não foi cogitada a possibilidade de deixar a produção do sonora a cargo de uma pessoa de fora da banda?
Alexandre - Eu mesmo fiz a produção do álbum do começo ao fim (pré-produção, gravação, mixagem e masterização) por dois simples motivos: Primeiro é que eu trabalho com isso desde 1994, é meu ganha pão e não faria sentido pagar caro para alguém com menos experiência para fazer isso. Segundo porque seria difícil chegar em um resultado que me agradasse se fosse feito por outra pessoa, uma vez que eu já tinha em mente exatamente como eu queria que as músicas soassem desde sua captação até a sua masterização. Seria difícil passar para outro profissional, pois eu já tinha em mente como deveria ser realizado cada estágio e como eu queria o resultado. Até a forma que o álbum foi masterizado, de forma que as músicas soassem bem soltas como na década de 90. Eu realmente não gosto como soam os álbuns hoje em dia e muito menos a forma que se “masteriza” hoje em dia, que mais me parece uma finalização que masterização. Queria que fosse feito de forma analógica, mais analógica possível, do início ao fim passando o mínimo em um computador e sem usar artifícios e enfeites digitais de hoje. Esse tipo de trabalho requer equipamento, familiaridade com ele e, acima de tudo, tempo e paciência.
Recife Metal Law – A banda está tendo o suporte da Sangue Frio Produções, não só na assessoria de imprensa, mas, também, como um dos selos que lançou o álbum de estreia. Em tempos atuais, de poucas vendas de CDs, como vocês avaliam o trabalho realizado não só pela assessoria, mas também pelos selos que participaram do lançamento de “The One Who…”?
Alexandre - As vendas estão bem acima do esperado e o suporte da Sangue Frio Produções/Records no lançamento foi fantástico! Fomos seu primeiro lançamento como selo e acho que seu trabalho foi muito amplo em atingir mais selos para a distribuição e participação nesse lançamento. O álbum está tendo uma receptividade fantástica. Nenhuma resenha ruim, o pessoal está só falando bem e a aceitação do álbum fora do país esta fudidamente boa. Na verdade estamos tendo uma receptividade muito maior lá fora que aqui dentro.
Recife Metal Law – Quais são os principais planos do Rigor Mortis BR?
Alexandre - Os planos são conseguir divulgar o álbum “The One Who…” com shows em festivais por todo Brasil durante o ano de 2017 inteiro e já no fim do ano começar a gravar o segundo, porque em 2018 quero lançar o segundo álbum da Rigor Mortis. Estamos já negociando com produtores/promoters para levar o nosso show para o máximo de lugar possível. Produtores, entrem em contato!
Obrigado.