Formada em 2011, o Warshipper traz em suas fileiras o guitarrista (e também vocalista da banda) Renan Roveran, que por muitos anos foi guitarrista da banda de Thrash Metal Bywar. Apesar dos oito anos, a banda começou a aparecer mais após o lançamento de seu segundo álbum, “Black Sun”, que é um disco bem difícil de rotular, no que diz respeito ao seu estilo musical. Porém, o principal de sua música é fazer Death Metal, trazendo influências de outros estilos musicais dentro do Heavy Metal. Além de Renan, o Warshipper traz, em sua formação, Rodolfo Nekhator (baixo), Roger Costa (bateria) e Rafael Oliveira (guitarra), todos presentes na banda desde a sua formação.
Recife Metal Law - A palavra “Worshipper” significa adorador. O nome da banda significa “adorador da guerra”, em tradução livre. Como foi juntar os quatro integrantes para formar o Warshipper?
Renan Roveran – Primeiramente gostaria de enfatizar o quão nostálgica essa entrevista está sendo. Me faz recordar nossos bate-papos de muitos anos atrás, certo Valterlir? (NDE.: época do MSN Messenger) Já fizemos algumas entrevistas juntos também quando da época da minha banda anterior, o Bywar. Muito legal. Bom, a história em torno do nome da banda foi inspirada nessa forte relação que a humanidade tem com guerras, sempre utilizando de argumentos diversos para justificar o que eu chamo de “fetiche sádico” e autodestrutivo, que nós humanos expressamos desde que passamos a funcionar como civilizações e sociedades. Aliado a isso, travamos uma guerra interna, psicológica, com nossos valores e emoções constantemente. Uma guerra mental. Quanto à formação da banda, ocorreu de forma bastante natural, considerando que somos amigos há muito tempo. Ao fim de 2010, Rodolfo, Roger e eu formamos brevemente uma banda chamada Pleasures of Possession, com o falecido irmão do Rodolfo, o Nuno, que foi o fundador do Zoltar. Após algum tempo o Roger e eu, inspirados pelos ensaios que fizemos com Nuno e Rodolfo, resolvemos retomar um antigo projeto chamado Abduction, juntamente com o Rafael. Foi quando resolvemos convidar também o Rodolfo. Como o título “Abduction” já havia sido utilizado em um disco do Bywar, quando, na época, o projeto foi encerrado e aproveitei composições para este álbum, optamos por buscar um novo nome. Foi quando surgiu o Warshipper.
Recife Metal Law - A banda está ativa desde 2011, tendo lançado um EP e um single antes do álbum de estreia. O EP foi lançado digitalmente em 2014, já com Renan Roveran nos vocais (além de tocar uma das guitarras). Do ano de seu surgimento até o ano do lançamento do EP, como os integrantes trabalharam as músicas desse material?
Roveran – Apesar de “Worshippers of Doom” ter sido considerado um EP, eu o tenho como nosso primeiro full length. É um disco de quase 40 minutos, possui oito faixas e foi lançado não somente em formato digital, mas também físico. É um disco muito importante para nós, considerando que foi nossa primeira exposição do trabalho da banda. Costumo dizer que a fórmula de composição do Warshipper é não ter fórmula. Inicialmente, eu possuía inúmeras composições que não eram utilizadas no Bywar, e foi com essas composições que demos os primeiros passos da banda. Com o tempo o entrosamento foi aumentando, assim como a sinergia, e a participação de cada um dos demais membros foi se elevando. Deixamos fluir naturalmente até decidirmos que iríamos gravar. Foi quando selecionamos as músicas que melhor refletiam a personalidade da banda, excluindo as demais. Inicialmente eu não iria gravar os vocais, pois tínhamos um vocalista na banda àquela altura. Era o Juliano, ‘frontman’ da banda de Heavy Metal Lecher. Por diferenças musicais, o Juliano deixou a banda ao início das gravações do álbum. Procurei por candidatos inicialmente, mas acabei decidindo por gravar eu mesmo os vocais, com a intenção de recrutar alguém com o disco lançado.
Recife Metal Law - Você falou que esse material foi lançado fisicamente, mas foi também de forma independente ou por algum selo? Ele ainda por ser encontrado?
Roveran – Houve uma parceria entre a banda e o selo LAB6, do meu amigo de longa data Fábio Zperandio (Gorgoth, ex-Ophiolatry). Ou seja, ocorreu de forma independente apenas com o apoio deste selo.
Recife Metal Law - E quais seriam as diferenças principais entre esse primeiro registro e o atual álbum de estúdio, “Black Sun”?
Roveran – Esta é uma pergunta bastante interessante. Na verdade, eu vejo grande diferença entre uma música e outra, no geral. Não nos preocupamos em compormos músicas que sigam regras ou estruturas pré-definidas. Mas comparando o “Worshippers of Doom” com o “Black Sun”, identifico que o segundo explora mais melodias e elementos, porém, sendo ainda mais pesado que o anterior. Para este álbum os vocais foram mais bem preparados e gravados, e experimentamos de novas melodias de cordas. Os trabalhos de bateria possuem maior variação também, promovendo com os demais instrumentos uma atmosfera mais densa e progressiva.
Recife Metal Law - Apesar de ser uma banda de Death Metal, a banda não se prende aos clichês do estilo e, a meu ver, tem melodias apuradas e algumas “viagens”, se assim posso dizer. Alguns mais radicais podem chegar a dizer que o Warshipper não é uma banda tipicamente Death Metal. Isso já chegou a ocorrer?
Roveran – Eu mesmo tenho dificuldade em classificar nossa musicalidade. Reconheço elementos diversos em nossas composições, variando do Metal Extremo, como Death, Black e Thrash Metal, até algo mais voltado a Prog Rock dos anos 70 ou NWOBHM. Temos muitas influências musicais e desde o início da banda a ideia era não nos prendermos a propostas. Já ouvi algumas classificações variadas quanto à nossa musicalidade, o que acho bastante curioso. Coisas como Blackened Death Metal, Atmosferic Death Metal, Experimental Death Metal, Melodic Black/Death Metal, e por aí vai. Acho todas as possibilidades muito interessantes, mas o que acho mais importante é justamente o fato de não haver uma denominação específica. Desde que começamos queríamos fazer a nossa música, sem parecermos com algo que já exista. Se há essa dificuldade em os ouvintes definirem nossos sons, significa que estamos no caminho certo, porém preferimos nos autodenominar Death Metal, pois é, talvez, o elemento mais presente em nossas músicas.
Recife Metal Law - O novo álbum conta com 10 músicas, em cerca de 50 minutos de duração. Algumas dessas músicas são mais curtas e outras um pouco mais longas, culminando em “Black Sun (Part I, II & III)”, com seus 10 minutos de duração. Como foi trabalhado esse lado, entre músicas mais curtas e músicas mais longas?
Roveran – Como mencionei acima, não temos uma fórmula. As inspirações para as composições vêm de dentro para fora, ou seja, não há regra. Se uma música é mais longa, é porque durante seu processo de composição as ideias e melodias vieram sendo expressadas dessa forma e não nos preocupamos em “podar” uma música para que ela pareça mais aceitável. Tem um lance muito interessante que não sei sintetizar em palavras, mas é você sentir que a música faz sentido com ela mesma. Tocando e ouvindo consigo ter essa percepção, e deixo rolar. Confesso, porém, que tenho uma tendência a compor temas mais longos. Se avaliar, por exemplo, no Bywar mesmo, composições como “The Graveyard (Final Demise)” e “Consciously Dead (The Part III)”, já traziam uma leitura mais longa que o usual para o estilo.
Recife Metal Law - Comentei sobre “Black Sun (Part I, II & III)” e a sua duração, mas é uma música que o ouvinte não vai perceber que tem toda essa duração. Isso se dá em razão da boa alternância de andamentos. Houve essa preocupação da banda, em mesmo fazendo músicas mais longas, não as deixar maçantes?
Roveran – Se trata daquele feeling que comentei acima. Tudo rola naturalmente, nada é pré-definido ou formatado. É como você ouvir “Gates of Delirium”, do YES. Como fã e adorar a musicalidade da banda, ouço aqueles mais de 21 minutos de música sem me parecer maçante de forma alguma. Ainda não chegamos ao ponto de compor algo tão longo assim, mas nunca se sabe. Ousar faz parte naturalmente da motivação do Warshipper.
Recife Metal Law - “Rebirth” é outra música bastante interessante, de andamentos marcados, com fortes melodias e vocais agressivos, mas sem ser rápida (seja vocal ou música). Essa é a toada do som do Warshipper. Músicas pesadas, densas e que não precisam de velocidade para que possam ser agressivas. De uma forma geral, esse álbum foi exatamente o que a banda procurava, em termos musicais?
Roveran – Gostamos muito do resultado do álbum como um todo. Além disso, trabalhar com o Rafael Augusto Lopes (Casanegra Studio), é fantástico! Ele é um excelente profissional e amigo. Acho que conseguimos fazer algo com mais melodia, sendo ao mesmo tempo mais pesado e agressivo. Não entendo que as músicas necessariamente tenham que ser mais ou menos rápidas. Acho que a música expressar o que o conteúdo lírico sugere, de forma a envolver as pessoas, é o mais interessante.
Recife Metal Law - Os títulos das músicas, bem como a parte lírica, faz o ouvinte viajar junto com a musicalidade do Warshipper. Mas o que, de fato, vocês abrangeram, liricamente, nesse primeiro álbum?
Roveran – Algo que sempre me fascinou nas músicas foi o conteúdo lírico. Desde criança, quando comecei a ouvir as bandas de Rock e Blues com meus pais, eu me interessei por traduzir as letras e entender o que de fato era dito no som. “Black Sun”, assim como o “Worshippers of Doom”, não é um disco conceitual, muito embora os temas se entrelacem e cada disco traga sua própria atmosfera e energia, sempre densos. Abordamos no álbum inúmeros temas, sendo que em algumas das músicas o ponto forte do conceito é relacionado ao não dogmatismo. Eu sou ateu e considero toda forma de religiosidade uma ferramenta opressora e altamente prejudicial para a humanização das pessoas. Abordamos, porém, outros temas como conflitos psicológicos e perda de identidade própria, desamparo emocional e busca de alienação para sobrevivência. Há até uma faixa, “Delusions of Grandeur”, que é inspirada no livro Communion, de Whitley Strieber, de 1987, que retrata uma situação de abdução. Se é fato ou não, não posso dizer, mas gosto muito desse livro desde novo.
Recife Metal Law - A arte da capa condiz perfeitamente com o que encontramos e, como conhecedor do trabalho do artista Alcides Burn, ele fugiu de sua zona de conforto e fez um belo trabalho. E digo mais, a primeira vista parece ser algo bem simples, mas ao olhar com afinco, encontramos muitos detalhes na arte da capa. A capa foi feita da forma que a banda mentalizou?
Roveran – Nós quatro da banda, aliás os quatro “R” (Rafael, Roger, Rodolfo e Renan... risos), discutimos bastante sobre onde queríamos chegar com a arte gráfica, considerando que já havíamos definido que o álbum seria intitulado como “Black Sun”. O Roger é um cara muito caprichoso e meticuloso. Teve o cuidado de promover um ótimo esboço de o que poderia ser a capa. Foi a partir desse esboço que o Alcides pode trabalhar na capa, porém demos a ele a liberdade de se sentir inspirado pelo tema e literalmente viajar. O resultado foi excelente e ficou muito melhor do que imaginávamos inicialmente.
Recife Metal Law - O álbum foi lançado, primeiramente, de forma digital, e depois ganhou a sua versão física. Como vem sendo o trabalho de divulgação desse trabalho por parte dos selos envolvidos no lançamento?
Roveran – Eu entendo que os selos envolvidos fizeram o melhor trabalho que estava ao alcance deles. As coisas mudaram muito, porém, e com a decrescente procura por material físico, o mercado fica muito restrito para quem trabalha com isso. O André da Brutaller Records e o Zperandio da Lab6 são grandes amigos meu e, assim como os demais selos envolvidos, fazem muita coisa por seu amor pelo Metal e Underground. Além disso, divulgar um álbum demanda um esforço muito grande por parte das bandas também e, muitas vezes, a realidade não propicia o tempo e recurso necessários para isso. Entendo que nossa turnê na Europa que acontecerá em setembro/2019 será uma boa forma de espalhar ainda mais nosso trabalho e render bons frutos.
Recife Metal Law - Essa turnê na Europa abrangerá quais países?
Roveran – Serão algumas gigs em cidades da Alemanha, Bélgica, Holanda, Eslováquia e República Tcheca. Será uma experiência muito louca, pois além de ser nossa primeira tour na Europa, a mesma será realizada pelo Warshipper e Necrobiotic, uma banda de grandes amigos de Belo Horizonte.
Recife Metal Law - Recentemente a banda liberou um single, “Atheist”, no formato ‘lyric video’, que também marca a parceria com o selo Songs For Satan. O Warshipper já trabalha em um novo álbum?
Roveran – Essa parceria nasceu de alguns encontros regados a muita cerveja e, além disso, desenvolvi uma amizade muito forte com o Flávio e o Felipe Brasil, da Sogns for Satan (SFS). Foi a SFS, inclusive, que promoveu a turnê na Europa. Rapidamente resolvemos lançar o “Atheist” para consolidar essa parceria e o resultado foi muito bom. Sobre novo álbum: Sim. Antes que todos possam imaginar teremos um novo full length em mãos e algumas surpresas sobre as quais falaremos mais abertamente em breve. Muito obrigado por ceder este espaço para nós, Valterlir, e todos os envolvidos com o Recife Metal Law. Uma das principais metas do Warshipper é tocar em todo o Norte e Nordeste do país, onde tive algumas das minhas melhores experiências com banda no passado. Deixo aqui meu abraço a todos.