A banda Chronic Infect foi formada em 2006, idealizada pelo ex-vocalista Charles Falcão e membro fundador da banda de Gore/Grind Scatologic Madness Possession. A banda lançou ano passado sua primeira Demo chamada “Festerfeast” e vem recebendo grandes elogios com esse brutal trabalho. Fornikator Kum-Mander (baterista) fala um pouco mais sobre a banda e planos para o futuro.
Recife Metal Law – Fale um pouco do início da banda. Essa mudança de formação e sonoridade, a banda continua com a temática Splatter?
Fornikator Kum-Mander – Bem, a banda iniciou as atividades em agosto de 2006 e inicialmente foi idealizada para ser apenas um projeto de estúdio com sonoridade Death/Grind e temática Splatter. A idéia partiu de Charles F. (ex-vocalista da Scatologic Madness Possession) e, devido a isso, todo o conceito inicial foi desenvolvido por ele, dentro daquilo que ele almejava e mais lhe agradava. Após as primeiras composições, o mesmo sentiu-se estimulado a efetivar o projeto como banda; conversamos e concordamos com a idéia; convocamos um baixista e assim foi. Entretanto, existem grandes diferenças entre um mero projeto e uma banda de fato. Há toda uma mudança de contexto, de mentalidade, de comprometimento. Não havia mais aquela coisa das idéias girarem em torno dos conceitos de uma única figura. A Chronic Infect era, agora, uma banda, fruto da visão de todos os envolvidos nela. O curioso é que à medida que o tempo foi passando, Charles foi gradativamente afastando-se da banda, não cumprindo com as obrigações mais triviais da mesma, até chegar a um ponto de ficar insuportável. Como já tínhamos agendado as horas no estúdio pra gravação da Demo, concordamos em mantê-lo até a conclusão das gravações; após isso, ele se desligou em definitivo da banda. Quanto à sonoridade, não houve nenhuma mudança significativa, pois, mesmo a idéia inicial sendo a de se fazer Death/Grind, quando da efetivação do projeto em banda, eu e AlkoholiKrusher (guitarra) imprimiu nossas visões, já que éramos os responsáveis pelas composições, e estas eram direcionadas ao mais puro, necro, mórbido, sujo e cru Death Metal. E assim tem sido desde então. A respeito da temática Splatter, esta foi uma opção natural do Charles, já que temas nessa linha são os que mais lhe agradam. Mas eu não via sentido em escrever letras neste estilo, já que tínhamos nossas devidas bandas onde expressávamos nosso gosto pelo Splatter/Gore (Scatologic Madness Possession e Feculent Goretomb). Então passei a escrever de acordo com meus sentimentos, visões e suprema vontade.
Recife Metal Law – Porque o título “Festerfeast”? Como tem sido a aceitação dessa Demo no Underground nacional? Tens enviado para fora do Brasil?
Fornikator Kum-Mander – Cara, a história por trás deste título é meio curiosa. Logo que iniciamos os ensaios do então projeto, pensei neste título como sendo o ideal para um trabalho Splatter. Ele foi tirado do nome de uma banda/projeto que continha os outros dois membros da Feculent Goretomb (o terceiro elemento era eu) e era puro Death Metal. Foi uma forma de homenagear este trabalho dos caras. Mesmo depois das mudanças de conceito e temática, resolvemos mantê-lo. Até onde sei e posso observar, a aceitação tem sido bastante positiva. Quanto ao exterior, nosso trabalho tem chegado por intermédio de alguns hellbrothers e suas distros, selos e zines, e somos muito gratos a estes por propagar nosso culto pestífero. Infelizmente não temos mantido um contato mais intensivo com os maníacos de outros países devido a problemas financeiros, e isto tem sido uma frustração pra mim. Mas, tudo tem seu tempo.
Recife Metal Law – A capa é um dos grandes destaques desse trabalho. Quem foi o autor dessa maldição? De quem foi à idéia? Parabéns mesmo! Desenhos de alto nível! Deixe o contato do brother aí também, né?! (risos)
Fornikator Kum-Mander – Obrigado pelas palavras! Realmente nossa arte de capa é digna dos maiores elogios e todos os méritos são do meu grande irmão alcoólico Wellington “Glen” de Oliveira, um grande artista e que vem desenvolvendo grandes trabalhos. Toda a idéia e conceito foram meus e o Glen captou perfeitamente tudo o que passei e transmiti a ele, tendo ele potencializado tudo com sua imaginação distorcida. O foda é que o cara ‘tá enrolado pra caralho no momento por causa dos trabalhos dele e ‘tá complicado até pra ele responder seus e-mails. Mas quem tiver interesse em desenvolver algo com ele é só entrar em contato comigo que eu repasso a ele.
Recife Metal Law – Porque Charles Falcão (ex-vocalista) foi desligado da banda? Mas ele continua focado no Scatologic Madness Possession, né?! Ou nem isso?
Fornikator Kum-Mander – Quando o Charles nos contactou para darmos início a Chronic Infect, já havia mais de meio ano que ele tinha saído da Scatologic Madness Possession e em ambos os casos os motivos foram os mesmos: incapacidade de conciliar a vida pessoal com os compromissos de uma banda, por mais básicos que sejam. Devido a isso, ele próprio tomou consciência de sua impossibilidade de levar a cabo seriamente uma banda e o mais apropriado (e única forma possível) é desenvolver projetos de estúdio. Foi assim que ele desenvolveu o projeto Triturador ao lado do Marcelo (Scatologic Madness Possession e GS Truds) na bateria e Yuri (Diagnose, ex-Vingança e ex-Agony) na guitarra e baixo. Lançaram uma Demo auto-intitulada no início deste ano e trata-se de um violento e brutal Grindcore. Recomendo este trabalho. Altamente fudido!
Recife Metal Law – Em abril de 2008, M. Bad Trip 666 foi efetivado ao front bestial como segundo guitarrista. De quem foi à idéia de chamar mais um guitarrista? E como anda o entrosamento? Já teve algum show com a nova formação? O fato de M. Bad Trip 666 tocar em várias bandas no Piauí e Ceará não atrapalha?
Fornikator Kum-Mander – M. Bad Trip 666 está atuando ao lado de nossos warbrothers da Evil Church desde 2007 e é bastante comum dividirmos horários de ensaio em estúdios por aqui, e muitas vezes ele pegava a guitarra e ficava tocando nossos sons. Em um determinado dia de bebedeira e ‘chapação’, estávamos trocando umas idéias e cogitamos a possibilidade dele integrar a banda como guitarrista e, pra nossa surpresa, ele se mostrou bastante empolgado com a idéia. Amadurecemos este pensamento e concluímos que com duas guitarras poderíamos materializar nossos mórbidos e perversos sentimentos de uma forma ainda mais devastadora. Conversamos e a partir de abril de 2008, M. Bad Trip 666 passou a integrar oficialmente nossa legião bestial. E o entrosamento vem se dando muito bem e de forma bastante natural. A primeira desecração ritualística com a nova formação ocorreu no último dia 17/05, aqui mesmo em Fortaleza. Quanto à questão de tocar em bandas de dois estados diferentes, isto não está sendo mais problema visto que ele está em definitivo aqui e não mais faz parte das bandas Piauienses em que ele atuava (creio que com exceção da War Torment).
Recife Metal Law – E John The Maniac Leatherface (vocal) faz parte de algum projeto além do Chronic Infect?
Fornikator Kum-Mander – Ele tem um projeto chamado Intermittent Testicular Discharge, onde é perpetrado um brutal Death/Gore, mas atualmente está paralisado por falta de integrantes. Ele também está atuando como vocalista da Brutal Verm’s, uma das bandas precursoras da cena extrema de Fortaleza e que há vários anos estava inativa. Eles executam um Grind/Death matador. A nível de curiosidade: A primeira banda que formei (Secretion) chegou a dividir o palco com a Brutal Verm’s em algumas ocasiões nos anos 93/94. Bons tempos aqueles.
Recife Metal Law – Fale um pouco da atual cena em sua região, como: shows, fanzines, rádios... Existe união em Fortaleza/CE entre as bandas? Quais as bandas que merecem o devido respeito?
Fornikator Kum-Mander – Bem, aquilo a que muitas pessoas aqui chamam de cena, como em muitos outros lugares, é cheia de altos e baixos, de acordo com a tendência vigente. O grande problema que ocorre em Fortaleza (o qual se torna o ponto crucial na questão) consiste no fato de que a maioria das pessoas que se consideram ou se auto-intitulam apreciadoras do Heavy Metal (em todas as suas vertentes) são desprovidas, total ou em grande parte, de conhecimento e, sobretudo, consciência das idéias, sentimentos, ideais e atitudes que estão por trás de toda a estética sonora e visual do estilo, a qual formam a essência do espírito Banger. E é devido a esta falta de consciência e a ausência deste espírito que faz com que criaturas desprezíveis como posers, tendenciosos, aproveitadores, mercenários, hipócritas/falsos, disseminadores de fofocas e intrigas, etc., se infiltrem no Underground, tornando este um meio altamente propício para a articulação de seus objetivos vis e mesquinhos. Temos que nos unir em torno de um objetivo comum e resgatar o conceito de movimento que há muito está perdido no meio Underground. Tem-se que abolir este espírito de competição propagado pelos falsos e imprimirmos a cooperação em nosso meio. Banir a escória interesseira que age no Underground de maneira ardilosa com seus belos discursos pré-programados e que visam somente auferir o status, auto-reconhecimento e/ou dinheiro (lucros), ficando o real apoio e desejo de crescimento e fortalecimento da cena em último plano. É somente com uma profunda conscientização e mudança de postura por parte de todos inseridos no Underground que construiremos um movimento forte, unido, de respeito e, conseqüentemente, com uma cena idem. Obviamente isto vale para todo o Underground nacional. Quanto aos shows aqui, eles tem ocorrido, mas poderia estar bem melhor. Já os zines, houve certa “febre” por aqui até bem pouco tempo atrás, mas foi aquele velho fogo de palha que dura duas, no máximo três edições (e às vezes nem isso) e hoje não temos nenhum zine realmente relevante (quando digo relevante refiro-me ao conteúdo e não ao “reconhecimento” do mesmo) em ativa, o que é lamentável. Rádios? Há muito tempo não temos um programa radiofônico destinado ao Metal por aqui (e feito por quem curte, conhece e vive o Metal então...). Essa é nossa realidade. As bandas que te citaria são aquelas que temos uma maior proximidade e admiração mútua (e algumas já foram citadas no decorrer da entrevista), mas prefiro me abster de citações pra evitar cair em decepção em um futuro próximo.
Recife Metal Law – E os shows? Tem surgido com freqüência?
Fornikator Kum-Mander – Como você bem sabe, é bastante comum para a quase totalidade das bandas extremas brasileiras tocarem muito pouco durante o decorrer de um ano, em média quatro/cinco shows ao ano. E conosco não é diferente. Mas como sempre digo: é preferível desta forma, pois não aprecio hiper-exposições, prefiro analisar bem quando, onde e com quem tocar.
Recife Metal Law – E quais os planos para esse 2ª semestre? A banda vem compondo material novo?
Fornikator Kum-Mander – Sim, já temos algumas composições novas e vamos trabalhar em mais algumas para, no segundo semestre, lançarmos um novo atentado genocida e que, por enquanto, ainda não sabemos em que formato virá. Também vamos ver se conseguimos fechar algum acordo com alguma distro ou produtora para lançarmos a versão tape de “FesterFeast”, pois este sempre foi um desejo nosso e que ainda não o concretizamos por questões financeiras.
Recife Metal Law – Quero lhe desejar boa sorte em seus projetos, Fornikator Kum-Mander. Quero dizer também que o Chronic Infect tem um público de respeito em nossa cidade! Espaço aberto para considerações finais...
Fornikator Kum-Mander – Porra, cara, você não faz idéia o quanto isto nos felicita, ainda mais por saber que estamos obtendo um bom respaldo em Belém, que é uma cidade que possui uma cena respeitável e que admiro de longa data, desde o final dos anos 80, com bandas como Morfeus e Black Mass e zines como Mayhemic e Metal Guardian. Porra, Belém revolucionou o Metal nacional com o Stress e só por isso já é merecedora de todo o respeito de todo e qualquer Headbanger que se preze, meu velho! E se temos uma boa quantidade de pessoas a admirar e prestigiar nosso trabalho por aí, devemos em muito isso a você, meu caro Elton, e o desejo de vitórias e conquistas é totalmente recíproco. Muito obrigado por toda a força e pelo fudido espaço cedido. A todos que estiverem a ler esta entrevista: fortaleçam suas mentes e espíritos; tenham sabedoria para usar seus conhecimentos; lutem pelo fortalecimento de nosso Underground e execrem toda a escória poser, hipócrita e falsa de nosso meio; atentem às belas retóricas e discursos sobre ideologia e atitude, pois atrás de belas palavras pode ocultar-se uma grande farsa. Metal é muito mais do que som, visual e palavras sopradas ao vento.
Contatos: A/C Ricardo (Fornikator Kum-Mander) Al. das Beneditas, 227-b, Qd. 27 – Cidade 2000. Fortaleza/CE. CEP: 60.190-160
E-mail: [email protected]
Entrevista por Elton Lima
Fotos: Divulgação