“Mind Burns Alive” apresenta os americanos do Pallbearer navegando num espaço entre a inquietação e a serenidade com uma intensidade singular. Às vezes poético e emocionante, o seu quinto álbum de estúdio é uma meditação profunda sobre isolamento, trauma e colapso mental, emoldurada pela possibilidade de redenção e pela tranquila e dolorosa beleza da fuga.
Sendo tanto musicalmente quanto liricamente despojado e vulnerável, “Mind Burns Alive” aborda temas universais como a solidão e a sensação de afogamento emocional em um mundo que faz tempo está ficando de cabeça para baixo. O baixista e vocalista Joseph D. Rowland descreve o álbum como “uma exploração do destino; quando você é enganado por seus próprios instintos e sua voz interna”.
O álbum abre com a contenção enganosa de “Where The Light Fades”, um eco raro e melódico ancorado na triste voz de tenor do vocalista e guitarrista Brett Campbell. Guitarras nebulosas carregadas de reverberação batem de frente contra os vocais de Campbell; tipicamente altos, aqui ficam intimidados e abalados antes de chegarem a um crescendo de liberação emocional de arrepiar a alma.
“Estas músicas são uma exploração mais profunda da dinâmica e do colorido sonoro de qualquer coisa que fizemos até agora”, explica Campbell. Embora os anteriores trabalhos da banda se apoiassem em muros de guitarra, distorção massiva e vocais penetrantes, eles conseguiram muito mais de “Mind Burns Alive” simplesmente abrindo mão de tudo isso. “Eu acredito que o verdadeiro peso vem do peso emocional e, às vezes, a pancadaria pura não é a abordagem certa para transmitir um sentimento”, acrescenta Campbell.
O segundo single retirado do álbum prova que o Pallbearer continua comprometido, dentro do contexto certo, com o uso do volume e da distorção. A acústica e o sintetizador reticentes que introduzem a faixa “Endless Place” rapidamente se transformam num ritmo controlado, mas deliberadamente desconexo, que sublinha a música. Impulsionado pelos tons do Death/Doom dos anos 1990, o guitarrista Devin Holt traz a melodia para frente e para o centro, capitalizando o excepcional trabalho de bateria do percussionista Mark Lierly. Em um ponto crucial, a banda cede os holofotes para Norman Williamson e seu solo de saxofone modal que, em um hábil truque de sombreamento, oferece breves vislumbres de alívio antes de cair na loucura e no final cíclico e violento da música.
Liricamente, “Endless Place” exemplifica o tom temático do álbum. Para Campbell, as músicas são “vinhetas que contam histórias de pessoas lutando contra inúmeras doenças espirituais. Elas são doenças adquiridas do mundo em que vivemos e os temas são os sintomas da doença”.
Após cinco anos de preparação, a jornada até a concretização deste álbum não foi nada fácil. A gravação deveria ter começado em 2020 mas foi adiada por motivos óbvios. Uma segunda tentativa foi feita em 2022, mas também foi cancelada. Sobre isso, Campbell comentou: “Depois de tanto tempo e duas tentativas de gravação abortadas, estava começando a parecer que o álbum estava amaldiçoado”. Finalmente, em 2023, tudo se encaixou e o que parecia um processo fadado a não ficar completo foi transformado numa grande oportunidade de expor sua visão original para o álbum.
“Mind Burns Alive” foi gravado no Fellowship Hall Sound e nos próprios estúdios da banda em Little Rock, Arkansas. “Tem sido um processo longo e obsessivo, e muito do nosso foco se expandiu desde Heartless à produção, por ter a possibilidade de gravar exatamente o que queremos, como e quando queremos”, diz Rowland.
Construir um estúdio próprio para que a banda pudesse usar motivou Rowland a se mudar do Brooklyn de volta para o Arkansas. “É irônico, já que o álbum é centrado no isolamento, mas parece que isso nos levou a estarmos juntos novamente na mesma cidade, depois de tanto tempo separados”, diz Rowland.
Essa proximidade criativa permitiu músicas como a faixa-título que exala uma intimidade diferente de qualquer trabalho anterior do Pallbearer. Onde o álbum é uma visão panorâmica do isolamento e da angústia, esta música percorre o arco sonoro da deterioração mental. Misturadas com um senso de heroísmo cinematográfico, as letras de Rowland, perfeitamente transportadas pelos vocais ternos, porém sinistros, de Campbell, descrevem um homem em uma cruzada pessoal já condenada.
Com “Signals”, o espaço e o silêncio têm o mesmo peso que um acorde alto e poderoso. Com seus oito minutos, a faixa é acentuada por momentos de um silêncio prolongado, quase ao ponto do desconforto. A atmosfera resultante disso tudo é cativante e emocionalmente evocativa. Liricamente, um apelo claro a alguém que está no meio da autodestruição. Profundamente direto e comovente e desprovido de qualquer excesso.
Falando sobre as recém-descobertas influências do álbum, Rowland afirma que a banda foi “inspirada a infundir a música emotiva e pesada da banda com tons de slowcore para combinar com seus temas de solidão e desespero”.
Escrita e cantada em parte por Rowland, “Daybreak” mostra um Pallbearer em sua forma mais meditativa e esparsa. Reflexiva sem cair no sentimentalismo barato, a música conta uma história solitária de aceitação como salvação emocional, em que se apoiar na dor é a forma mais libertadora de se deixar levar.
“Mind Burns Alive” finaliza de forma indignada e implacável. Como o título elucida, “With Disease” está entre as músicas mais pesadas que o Pallbearer já gravou. Nela, Campbell, acompanhado por Holt, troca suas vocalizações delicadas padrão por uma entrega muito mais orgânica e visceral. Consequentemente, a música e o álbum como um todo se desviam para um caminho inquietante, tanto musical quanto liricamente, terminando com o desespero sinistro proferido em tons fervilhantes por Campbell.
Na esteira da mudança de paradigma que uma pandemia pode proporcionar, da agitação política sem fim e da certeza de um colapso ambiental, estas seis músicas oferecem uma perspectiva singular sobre a dor que está no coração da experiência cotidiana. “O Pallbearer sempre funcionou como esse lugar para nós”, resume Campbell, onde a banda oferece uma saída purificadora para expressar um espectro de emoções desconfortáveis. “Mind Burns Alive” não é simplesmente uma exposição sobre esses sentimentos complexos. Ele é a intersecção musical onde a luta esbarra na vontade de seguir sempre em frente.
Um lançamento da parceria Shinigami Records/Nuclear Blast Records. Adquira sua cópia clicando aqui.