Affront surgiu com a ideia de seu líder, M.Mictian (baixo/vocal), explorar outro tipo de sonoridade. Isso porque antes do Affront, M.Mictian esteve com o Unearthly por anos. Unearthly que foi uma respeitada banda de Black Metal brasileira, lançando grandiosos álbuns e fazendo diversas turnês. Mas o foco aqui é o Affront, que em sua primeira formação tinha, além de M.Mictian, R.Rassan (guitarra) e Jedy Nahay, que foi o time que gravou o disco de estreia, “Angry Voices”. Já a segunda formação, que gravou o segundo álbum, “”World in Collapse”, teve mudança, com a saída de Jedy e a entrada de Leghor Supay (pseudônimo de Rafael Lobato) assumindo as baquetas. Mas, mesmo com o pouco tempo de formação, essa formação não durou muito tempo e, hoje, quem acompanha M.Mictian é Rafael Lobato (bateria) e Matt Silva (guitarra). Com dois álbuns lançados, o Affront já trabalha em seu terceiro disco. Na entrevista a seguir M.Mictian nos fala mais a respeito da banda e sua jornada.
Recife Metal Law – Antes do Affront havia o Unearthly, respeitada banda de Black Metal nacional. Por que com o fim do Unearthly M.Mictian decidiu por montar uma banda de Thrash e não prosseguir no Black Metal?
M.Mictian - Antes de gravarmos o último álbum do Unearthly, eu já tinha a ideia de parar com a banda. Eu queria fazer algo novo, desafiador. O Unearthly já não mexia mais comigo e também eu tinha a vontade de fazer outro estilo e que sempre adorei desde de adolescente. Então comecei a moldar o Affront.
Recife Metal Law – A estreia da banda veio com “Angry Voices” (2016), álbum que traz um Thrash Metal raivoso, com nuances do Death Metal. A parte instrumental foi criada por M.Mictian e R.Rassan. Como não houve lançamento de uma Demo ou single anteriormente, essas músicas faziam tempo que já estavam sendo criadas por vocês dois?
M.Mictian - Eu, assim que parei com o Unearthly, comecei a escrever riffs e vários esqueletos de músicas para um disco, quando convidei R.Rassan pegamos esses ‘esqueletos’ e fomos moldando, criando arranjos e os transformando em músicas, mas foi tudo muito rápido e feito no mesmo ano de lançamento do disco citado. E eu nunca tive intenção de lançar Demos do Affront.
Recife Metal Law – Mesmo apresentando um disco tipicamente Thrash Metal, a banda inseriu outros elementos musicais. Primeiro na instrumental “Terra sem Males (Guerra Guaranítica)”. Essa música é uma espécie de homenagem?
M.Mictian - É uma homenagem ao Brasil, ao povo brasileiro; aos que realmente adoram nossas terras e não aos que se dizem patriotas e cultuam tradições de outras nações. (risos) Mas a ideia era poder mostrar como nossas raízes são ricas. Usamos alguns instrumentos indígenas (eu gravei todos), mas é uma canção tipicamente instrumental e progressiva.
Recife Metal Law – Falando em homenagem, “Mestre do Barro”, música que até inclui um pandeiro, é uma clara homenagem ao Mestre Vitalino (Vitalino Pereira dos Santos, pernambucano - 10/07/1909 a 20/01/1963). Qual a razão da homenagem a esse ilustre pernambucano?
M.Mictian - Como falei na resposta anterior, é uma homenagem ao Brasil mesmo. Eu sou filho de uma nordestina, sou bem apegado às tradições do Nordeste e do Brasil como um todo. A música começa com um “padeiro de Coco”, que é um ritmo antecessor ao Baião. Eu conheço vários artistas nordestinos e de todo Brasil, e que muitas vezes o próprio brasileiro nunca ouviu falar, e Mestre Vitalino merecia esta singela homenagem por tudo que ele representa. Infelizmente ele tem mais reconhecimento fora do Brasil do que por aqui.
Recife Metal Law – Como mencionado, “Angry Voices” foi lançado em 2016. Em termos de distribuição/alcance, o objetivo foi alcançado?
M.Mictian - O disco saiu no Brasil e na Europa; foi muito bem recebido. Saímos em várias revistas pelo mundo. Foi interessante tudo que aconteceu com esse álbum, mas se você me perguntar intimamente, eu queria muito mais, e quero muito mais ainda com todos os outros discos que eu lançar.
Recife Metal Law – Não demorou muito e em 2018 o Affront lançou o segundo álbum, “World in Collapse”. Houve alguma sobra do álbum anterior, mesmo que apenas em ideias, que foram utilizadas nesse segundo disco?
M.Mictian - Na verdade, “World in Collapse” acabou sendo lançado no início de 2019 por conta do atraso da fábrica em produzi-lo. Não tem nenhuma sobra do disco do anterior. Assim que terminei de compor e gravar “Angry Voices” eu comecei, em meio aos shows, a compor o “World in Collapse”, e sempre que eu tinha um tempinho eu criava algo e guardava para lapidar depois.
Recife Metal Law – De um disco para o outro notei algumas sutis diferenças, na parte musical. Percebi inserções do Thrash Metal ‘old school’ em alguns riffs, algumas músicas. Mas, nas palavras da banda, do primeiro para o segundo álbum, quais são as principais diferenças?
M.Mictian - No “World in Collapse” utilizamos mais riffs Thrash Metal. Não acredito que tenha muita coisa ‘old school’. Usamos muito de nossas influências de Thrash Metal e Metal em geral da década de 90, isso é bem claro e notável nas canções. Busquei deixar esse álbum bem parecido com o que eu ouvia nos meados e final dos anos 90.
Recife Metal Law – Ainda sobre mudanças, o primeiro disco teve na bateria Jedy Najay, o qual cedeu as baquetas para Rafael Lobato no segundo disco. A que se deveu a mudança nesse posto?
M.Mictian - Nada de mais. Jedy voltou a morar na cidade onde morava com sua família e é bem longe do Rio de Janeiro; ficou inviável ele ensaiar todas as semanas e manter o mínimo de tempo para a banda e, assim, decidi que seria melhor ter um baterista mais perto de nós e que pudesse se dedicar melhor a banda.
Recife Metal Law – A temática lírica da banda se prende mais ao lado crítico/social, com letras que retratam asmazelas, principalmente brasileiras, e críticas às religiões, principalmente ao cristianismo. O Affront tem como premissa apenas abordar tais temáticas?
M.Mictian - Essas são temáticas que apareceram nos dois primeiros discos, mas o Thrash Metal me traz a possibilidade de eu falar em qualquer assunto sem me prender a nada. Talvez o próximo álbum traga mais assuntos que eu ache interesse em versar. No fundo e de
verdade, não quero me prender a nada, vou sempre escrever sobre o que eu achar relevante.
Recife Metal Law – Ainda sobre as letras, todas foram, novamente, escritas por M.Mictian. Há uma razão para que apenas você seja o letrista?
M.Mictian - Eu fundei o Affront; eu criei toda atmosfera para essa banda, então quero que isso se mantenha, e trilhar sempre um caminho equilibrado e com isso não misturar muitas ideias. Eu prefiro que seja assim.
Recife Metal Law – Já a construção instrumental e arranjos ficaram, mais uma vez, por conta de M.Mictian e R.Rassan. Por que o baterista nunca participa da composição dos álbuns do Affront?
M.Mictian - Trabalho, projetos, precisam de líderes, precisam que pessoas se mexam e façam algo acontecer. Muitas das vezes o músico não se interessa em escrever algo é quer somente participar com seu instrumento. “OK”, que seja, mas de certa forma ele está escrevendo a sua participação com seu instrumento. Várias e/ou muitas bandas são assim, não vejo nada de anormal nisso.
Recife Metal Law – A concepção de arte das capas foi criada por artistas diferentes. Marcelo Vasco criou a do primeiro álbum, enquanto que Edu Nascimentto foi responsável pela segunda. O que levou a banda a fazer a troca de artistas nas capas?
M.Mictian - Marcelo Vasco é um excelente artista. Eu somente não queria repetir o mesmo artista naquele momento. Decidi buscar outra atmosfera, algo diferente para o segundo álbum, tentar trazer, talvez, ideia de cores, traços, formatos diferentes do primeiro álbum e isso funcionou muito bem como eu queria.
Recife Metal Law – Tendo em vista a pandemia e, ainda, o que o nosso país atravessa, politicamente falando, o que esperar do Affront para um próximo disco?
M.Mictian - Um disco de críticas, de guerra contra fascistas, contra injustiças, contra racismo e preconceitos. Um disco indo contra toda alienação que assola não só o Brasil, mas o mundo.