A Final Creation, apesar de apenas em 2022 ter lançado o seu álbum de estreia, “In the Valley of Death”, via De Profundis Productions, não é, definitivamente, uma banda novata. Desde 2010 a banda vei labutando no meio Underground de Pernambuco, fazendo diversos shows ao longo dos anos. E foi justamente em um desses shows que pela primeira tive contato com o som da banda, num evento que ocorreu no Burburinho Bar, que até hoje abriga eventos Underground no bairro do Recife Antigo. Como é comum com bandas, ainda mais advindas do Underground, a Final Creation passsou por diversas formações, estando hoje assim composta: Jonatas Lins (baixo), JC “Armagedon” (bateria), AlexGrind (vocal), Gabriel “Lord Erebus” e Júnior “Dark” (guitarras). Porém, mesmo com as diversas mudanças, o que não mudou foi a forma de a banda fazer o seu Death Metal. E sobre sua musicalidade, formações, pretensões, entre outras coisas, ficaremos sabendo na entrevista a seguir.
Recife Metal Law - A banda Final Creation surgiu em 2010, assim sendo, não é nenhuma novata no meio Underground pernambucano. Porém, nesse ínterim, nada de estúdio havia sido lançado até o seu álbum de estreia. Quais foram as principais atividades da Final Creation até antes do lançamento do seu primeiro álbum?
AlexGrind - Primeiramente gostaria de agradecer pelo espaço cedido à banda e pela entrevista. A Final Creation passou por muitas mudanças de formação, e as principais foram os guitarristas Bruno Cabelo (fundador da banda) e Sérgio. Eu também sai da banda duas vezes por motivos pessoais e retornei anos depois, antes de entrar em estúdio. Mas a banda chegou a gravar uma Demo-ensaio, porém não chegou a lançar, pois a banda resolveu assim. Hoje a banda se encontra nesta nova formação atual. JC “Armagedon” - E, nesse período, além de ficar em meio as mudanças na formação, ficamos fazendo shows e correndo atrás para produzir o que seria nossa Demo, que terminou sendo lançada como o álbum.
Recife Metal Law - Como era de se esperar - e como acima mencionado -, pelos tantos de anos de atividades, algumas mudanças ocorreram na formação, mais precisamente nos vocais e nas guitarras. Qual o impacto que tais mudanças causaram na sonoridade da banda?
JC - Toda mudança de integrante, de uma forma ou de outra, causa mudanças, e algumas não tão visíveis, mas acontecem. E com a gente também rolaram, devido aos estilos de tocar, tipo de equipamento que usa, mas a principal mudança, ao meu ver, foi na forma de trabalho, em se tratando do “In the Valley of Death”, porque toda essa parte musical foi criada com a primeira formação e com os guitarristas iniciais da banda. O Bruno Cabelo quem criou grande parte dos riffs das músicas. Acho que 90% foi ele quem compôs. A maioria das mudanças que tivemos foram nos vocais. Acho que passaram uns quatro ou cinco vocalistas, mas os que ficaram por mais tempo e que desenvolveram alguma coisa foram Freddy Horde e o AlexGrind, que é da primeira formação, e foi quem compôs as letras. Nas guitarras, as mudanças de integrantes foram anteriores à gravação. Então, quando os guitarristas atuais - Junior Dark e Gabriel Agares - entraram, já estava tudo pronto em termo de composições. Por isso falo que ocorreram mudanças, sim, mas não na parte musical e, sim, na comportamental, nas atitudes para com a banda, no comprometimento, e nós também não queríamos que fosse alterado nada para não gerar ainda mais problemas naquele momento. Buscamos ser o mais fiel possível para que tudo corresse sem grandes intervenções que pudessem dificultar ainda mais processo.
Recife Metal Law - Num passado já longínquo, as bandas, antes de seus álbuns completos, lançavam material demonstração, as famosas Demos, para mostrar ao público o que se podia esperar de uma banda em formação. Vocês quase passaram por essa fase, de lançar uma Demo, mas não o fizeram...
JC - A gente, como uma banda que já tem mais de 10 anos e já estamos nessa desde projetos anteriores, também pretendíamos seguir esse processo, que é uma forma lógica de você conduzir um projeto inicial, pelo menos nos moldes antigos. Até pelos custos envolvidos em um álbum, é mais viável uma banda iniciante fazer Demos para dar visibilidade ao trabalho e depois, com os resultados alcançados, conseguir apoio financeiro, ou não (já que estamos no Brasil), e depois lançar um álbum. O que aconteceu com a Final Creation foi que compomos as músicas e quando todos os detalhes de arranjos estavam prontos, resolvemos entrar em estúdio para gravar o que seria nossa Demo. Fizemos todo processo de gravação, master e mixagem, só que não gostamos muito do resultado, por diversos problemas, principalmente falta de experiência no processo gravação, o lance de você entrar no estúdio sabendo o que quer e o que pode fazer. Aí decidimos não lançar esse material e gravar novamente em outra situação, com uma melhor estrutura, melhor condição de estúdio. E para conseguir isso precisa ter grana, dedicação, tranquilidade, um bom ambiente... Foi onde as mudanças de formação atrapalharam. Claro que não só isso, mas foi o fator principal, com certeza, para não conseguirmos dar andamento nas coisas. Com a entrada dos guitarristas atuais vimos que seria o momento para o material ser gravado, produzido e lançado. Estava tudo fluindo bem e tudo foi acontecendo naturalmente. Como já havíamos passado esse tempo batalhando para firmar uma formação e conseguir a grana ou alguma parcerias para que, enfim, pudéssemos gravar nosso material da forma que queríamos, não fazia mais sentido lançar esse material como uma Demo. Foi até uma forma de fechar o ciclo dessas músicas com chave de ouro.
Recife Metal Law - O primeiro álbum da Final Creation recebe o título de “In the Valley of Death”, e foi lançado em maio do ano passado (2022). O disco contém seis faixas, contando com a “Intro”. As músicas que estão presentes neste lançamento são todas as já compostas pela banda?
JC - Na verdade, quando entramos para gravar o “In The Valley of Death”, já tínhamos duas músicas em começo de trabalho, que não entraram no material por não estarem concluídas e porque eram músicas que seriam preparadas para o que seria nosso próximo material; como se fosse uma nova fase da banda... E nós queríamos fazer essa separação de momentos. Passamos um período só focado no “In the Valley of Death”, mas já voltamos a compor. Agora já temos umas quatro músicas prontas e outra em início de trabalho. A ideia é não passar mais tanto tempo para sair um novo álbum, (risos) mas tudo depende das condições. Com certeza composições não será o problema, porque estamos correndo para deixar um próximo álbum já pronto só à espera do momento de ser lançado, ou pode rolar outra coisa nesse meio tempo... Um vídeo, um single... Tudo vai depender de como as coisas irão seguir daqui para frente
Recife Metal Law - O álbum foi lançado pelo selo pernambucano De Profundis Productions. É um selo relativamente novo. Então, como vocês avaliam a importância de ter esse lançamento por este selo? A divulgação que está sendo feita vem agradando à banda?
JC - Estamos muito satisfeito com o trabalho da De Profundis Productions. Eles estão começando nessa empreitada e nos escolheram como a primeira banda. Ficamos felizes por todo trabalho de divulgação realizado por eles até agora. Inclusive, foi feito um show de lançamento no mês de julho do ano passado (2022) no Darkside Studio, com as bandas Depreciation de Garanhuns e a Cetus, que também é daqui de Jaboatão, e foi muito foda! Importante falar que o trabalho dos caras de divulgação está nos rendendo várias resenhas de diversos lugares do Brasil e já nos falaram que nosso material chegou no Velho Continente, mais precisamente em Portugal. Tudo isso seria muito mais difícil sem o suporte deles e as parcerias de outras distros, como a Sangue Underground Records, Death Voice Records, a Brutal Circle Distro, dentre outras... Não vou lembrar todas agora. Fora as entrevistas, tais como a cedida para o Evocando Artes Metálicas, no canal do YouTube Power Thrashing Death do ‘brother’ Reinaldo Steel. Por isso só temos a agradecer aos irmãos Tadeu Ricardo (Turvo Zine), Roseane Guedes e Homero Lacerda, eles que constituem a De Profundis Productions e que fizeram o nosso sonho virar realidade. Muito foda o que estão fazendo! E eles estão a todo vapor! Além da Final Creation, estão distribuindo o segundo álbum da Bellicus Daemoniacus, horda carioca, Mordeth, horda goianiense, a Infernizer também... E tem mais coisas vindo por aí. O álbum da Final Creation foi só o começo.
Recife Metal Law - A arte da capa, num tom avermelhado, que nos traz a sensação de sangramento, tem uma ligação total com o título do disco. O artista responsável pela capa foi Emerson Maia. A ideia de arte para a capa foi totalmente dele ou os integrantes da Final Creation deram dicas de como queriam a arte?
AlexGrind – A banda, como um todo, queria a capa baseada na faixa-título do CD, aí demos umas ideias como queríamos, mandamos um áudio da faixa... Ele fez o seu melhor e o resultado foi este aí. E também tem um pouco das mãos de Alcides Burn no trabalho da capa também.
Recife Metal Law - O layout do encarte é bem simples, trazendo ficha técnica, agradecimentos, contatos... Mas não traz as letras. O fator dinheiro foi o principal para não se constar as letras no encarte?
JC - Sim, a questão financeira foi um dos motivos, e tivemos dificuldades e atrasos com as informações para chegar até Alcides Burn, que ficou responsável pelo layout do encarte. Para não deixar as coisas ainda mais complicadas e prejudicar as datas para enviar para produção, entramos em consenso, juntamente com a De Profundis, e fazer dessa forma: mais simples em quantidade de conteúdo, mas não em relação a qualidade do trabalho gráfico e artístico. Bom, foi um grande aprendizado esse material para nós. Um trabalho desse porte é como uma máquina que tudo tem que estar em sincronismo. Um pequeno erro em uma das engrenagens prejudica o funcionamento do equipamento e a gente não podia perder essa oportunidade de lançar esse material. Com certeza foi o melhor que podíamos fazer naquele momento e todos se dedicaram muito nesse trabalho: a banda, a galera da De Profundis, Alcides Burn, que deu um suporte fuderoso para a gente, tanto na arte como em todo conteúdo que consta no material... Ajudou-nos muito... Deu muitas dicas de como fazer.
Recife Metal Law - Sobre as letras, pelos títulos das músicas, podemos dizer que a banda aborda temas como morte, antirreligião, além de alguns temas mais lascivos, por assim dizer. Quem é o principal letrista da banda e de onde vem a inspiração para os temas abordados?
AlexGrind - O principal letrista da banda sou eu, mas os outro integrantes também criam letras. O foco lírico é sempre morte, antirreligião e tudo da mais pura maldade e psicopatias do ser humano. Eu tiro minha inspiração em filmes de terror, relatos e atrocidades que nos rodeiam desde os primórdio da raça humana. (risos)
Recife Metal Law - Musicalmente, a banda é Death Metal, simplesmente Death Metal. Mas com uma carga pesada de muito ‘feeling’ e ‘punch’ nas músicas, sem necessariamente descambar para a velocidade extrema. A construção musical de “In the Valley of Death” é mais centrada no peso do que na velocidade, trazendo algo daquele Death Metal mais trabalhado (e pesado) da década de 90. Arrisco a dizer que a banda tem uma sonoridade bem própria, algo que é bem difícil. Como foi compor esse disco para não soar simplesmente como os ícones do estilo?
JC – Para ser bem sincero, nunca paramos muito para definir como a banda soaria. Fomos compondo as músicas e elas saíram dessa forma. A única preocupação era fazer Death Metal. E essa coisa da personalidade nas músicas vem muito das influências, que são bem fortes no Death Metal, mas que passam por outras vertentes do Metal. Aliás, eu o Bruno, que foi da primeira formação, e o AlexGrind, também já tivemos projetos de Black Metal. Eu continuo tocando nas hordas Necrolust Alcoholic e na Night Occult, ambas de Black Metal. Tem Jon, baixista, que tem um projeto de Doom Metal, a Luctos. Da formação atual tem Gabriel Agares, guitarrista, que também toca na Malkuth, e o Junior Dark tem o projeto dele de Death Metal, a Necropatia. Escutamos de tudo, desde Rock Clássico ao Brutal Death Metal, e essa diversidade de estilos termina aparecendo nas composições. Na vida tudo que você escuta, que você vê, influencia de alguma forma no que você faz. Nós, quando compomos, não colocamos limites, não pensamos em soar ‘old school’ ou Brutal Death e, sim, em fazer música. Como ela vai acontecer, nunca se sabe. (risos) Se for Death Metal, perfeito!
Recife Metal Law - Foram 12 anos entre a formação da banda e o lançamento do seu primeiro álbum de estúdio. Vocês vêm trabalhando na divulgação desse primeiro disco. Gostaria de saber quais os próximos passos da banda, além de fazer shows ao vivo e divulgar o “In the Valley of Death”…
JC - A princípio, divulgar o máximo possível o “In the Valley of Death” e, consequentemente, a banda, para que possamos continuar evoluindo nosso trabalho. Como falei, já estamos trabalhando em novas composições para não ficar um hiato muito grande entre o “In the Valley of Death” e um próximo material. Nossa agenda para esse ano ainda está bem aberta. Estamos estudando as possibilidades de shows e correndo atrás. Isso é algo que ainda não mudou muito. Pretendemos tocar em outros Estados, para cada vez mais ampliar os horizontes da banda. É um dos nossos objetivos para esse ano. E queria mais uma vez agradecer ao Valterlir Mendes e a todos que fazem o Recife Metal Law pela oportunidade de falarmos sobre a banda e divulgar nosso trabalho. Esses espaços são muito importantes para que o Underground aqui no Nordeste e no Brasil, de forma geral, continue sempre vivo e pulsando forte.