Evento: Old School Attack
Data: 21/07/2017
Horário: 22h00
Local: Zero Um – Recife Antigo. Recife/PE
Bandas: - Hellishkiller (Black Metal – PE/RN) - Sepulchral Whore (Death Metal – PE) - Whipstriker (Heavy/Speed Metal – RJ) - Apokalyptic Raids (Black/Death/Thrash Metal – RJ)
Resenha & fotos: Valterlir Mendes
Fazia um bom tempo que o festival “Old School Attack” vinha sendo divulgado. Tudo bem, o título do ‘fest’ sugere um evento totalmente voltado ao lado mais ‘old school’ do Heavy Metal, óbvio, mas em tempos de internet e redes sociais a massificação da divulgação se deu por esses meios. Nada do que foi feito em tempos pré-históricos do Heavy Metal, com panfletos, flyers ou no boca-a-boca. Sinais dos tempos...
O evento se deu numa sexta-feira, num lugar onde boa parte do público só sai de casa (ou do trabalho) para ir em shows aos sábados. Mesmo assim um bom público era esperado. Era, já que até o responsável pela produção do evento, Léo Frias, estava temeroso, já que fortes chuvas caíam na capital desde a quinta-feira. E chuva em Recife é significado de caos e alagamentos. No interior a chuva caía em abundância, porém, ao menos em minha cidade, sem caos e alagamentos. Então foi pegar a condução, na estrada ver o tempo “totalmente fechado” e torcer para que a chuva desse uma trégua ao menos durante a noite. E isso foi o que aconteceu.
Chego ao local do evento, no Burburinho Bar, cerca de meia hora antes do horário marcado. A movimentação nos arredores era bem pequena, mas ao subir até o piso superior, onde ocorreria o “Old School Attack”, tudo já estava praticamente organizado/montado: stands de merchandising armados, inclusive das bandas participantes, palco montado e apenas alguns detalhes sendo acertados. Então era o tempo de tomar uma cerveja e conversar com o pessoal enquanto não era dada a largada nos shows. Mas ao descer...
Alguns minutos antes do horário para se iniciar o evento veio o balde de água fria (e não foi com fortes chuvas). A polícia chegou ao Burburinho e informou que o local estava interditado. Adesivo na porta com a informação e a decepção de quem estava no local, principalmente das duas bandas que estavam viajando pelo Nordeste em sua atual turnê. Então foi uma correria para ver se o local era liberado, o que foi em vão.
Beirando quase meia noite uma solução foi arranjada: correria para desmontar o som do Burburinho e levar para um pequeno local denominado Zero Um, na mesma rua. A montagem foi até rápida e uma correria no melhor estilo “DIY”, com muitas mãos trabalhando para que tudo se arranjasse e o festival pudesse ocorrer. E, sim, com todos os percalços o evento aconteceu.
Alguns minutos antes da meia-noite o Hellishkiller deu início a sua apresentação. Em sua formação dois integrantes bem conhecidos do Underground pernambucano: Hellishkiller (vocal/guitarra) e Old Goat – também conhecido pelo vulgo de Cláudio Slayer – (baixo). Complementa o grupo o baterista Apollyon. Com um ‘set list’ composto apenas por músicas próprias, a banda detonou um furioso Black/Thrash Metal, sem muitas firulas ou técnica apurada (não estou dizendo que a sonoridade da banda é mal feita, pelo contrário, toca o estilo de forma correta e direta), com riffs de guitarras zumbindo e baixo bem latente. Músicas como “Celebrate the Day of Chaos”, “Unholy Black Spell” e “Nocturnal Impaler”, tocadas com fúria e de forma direta, exemplificaram bem o que é a sonoridade do Hellishkiller. A sonorização estava num bom patamar, mesmo que vez ou outra o vocal tenha ficado mais baixo em relação aos demais instrumentos. A banda ainda iria tirar um cover de GG Allin, mas devido a todo o ocorrido, teve que o limar do ‘set’.
Como mencionado, o local para onde foi transferido o ‘fest’ era bem pequeno, então ficou facilmente cheio, mesmo com o público pequeno. Não sei se parte do público chegou e foi embora depois de saber dos acontecimentos ou se apenas não compareceu mesmo. Mesmo assim o ‘fest’ continuou e não demorou muito para ter início o segundo show da noite/madrugada.
Após alguns ajustes, o Sepulchral Whore dava início a sua apresentação. Esse foi o segundo show que pude ver da banda e acho que era o segundo show da banda (não lembro ao certo)! Mesmo assim o trio, formado por C. Le Sorcier (bateria), Nyarlathotep IV (guitarra) e Necrospinal (baixo/vocal), se mostra bem seguro, apesar da pouca movimentação em palco. A banda faz um Death Metal primitivo, mas mostrando boa segurança instrumental, com linhas bem criativas. Bebem na fonte ‘old school’, mas não saem tocando qualquer coisa, tudo é bem definido, até mesmo os ‘reverbs’ nos vocais. O ‘set’, de certa forma, foi longo, e as músicas tocadas estão praticamente todas no EP de estreia da banda, “Everlasting Morbid Delights”, lançado primeiramente de forma digital e que em breve estará à disposição do público fisicamente. Nem mesmo os problemas com a guitarra em “Malicious Conflagration” causou maiores preocupações. O Sepulchral Whore vem numa boa crescente, fez um show correto, com efeitos bem colocados, criando boas linhas instrumentais, com bases marcadas, além de algumas passagens mais ríspidas. O Underground de Pernambuco anda meio combalido, mas o Sepulchral Whore mostra que ainda dá para reverter a situação.
Sim, a montagem do som no Zero Um foi nas pressas para que as bandas não deixassem de tocar, mesmo assim impressionou a qualidade do som, que com pequenos ajustes na mesa foi satisfatório em todos os shows, sem deixar nenhuma banda com uma sonorização ruim ou inaudível.
Acho que já passava das 02h00 quando o Whipstriker iria dar início a sua apresentação. Até diminui o volume das cervejas, já que a viagem, o stress e outras coisas mais já davam sinais. Então me segurei para ver o show tranquilamente. Acho que foi o show que demorou um pouco mais a ter início, até mesmo em virtude de um problema com o cabeçote. Nada que abalasse o mentor do Whispstriker, Victor (que ainda lembra o meu endereço, na época que trocávamos cartas). Ele fez um aquecimento vocal, e estava bem instigado e então, depois de tudo acertado, mostrou fúria, com sua banda, destilando um furioso Speed/Thrash Metal com forte influência da música Punk/Hardcore. Tudo bem, o público era pequeno, o local era pequeno, mas até uma tímida roda surgiu. Percebi (e outros também) certo vigor juvenil na música do Whipstriker, algo que o estilo realmente pede. Esse vigor foi visto da primeira a última música, num show contagiante e de pura energia explosiva. A banda vem divulgando seu novo álbum de estúdio, “Only Filth Will Prevail”. Infelizmente não tive acesso ao ‘set’, e mesmo curtindo muito o som do Whipstriker, não lembro as músicas executadas.
Já eram mais de 03h00 e minha maior preocupação era perder o último show, afinal é uma banda que acompanho desde o lançamento da primeira Demo, troquei muitas cartas com o seu mentor, Leon Manssur. Então minha apreensão aumentava a cada minuto que se passava para pequenos ajustes na sonorização. Felizmente até que tais ajustes não foram demorados.
Tendo a frente o já citado Leon “Necromaniac” Manssur (guitarra/vocais), além de seu fiel escudeiro de longas datas, Pedro “Skullcrusher” (bateria, e que também havia tocado com o Whipstriker no show anterior) e do ‘live member’ para essa tour, Everton “Sauron” (com seu baixo de três cordas), o Apokalyptic Raids estava de volta a terras pernambucanas depois de sete anos. Já faz um bom tempo que a banda não lança material novo, mas sua discografia com quatro álbuns lançados tem músicas que são verdadeiros hinos do Underground e que dão continuidade ao que o Hellhammer deu início lá nos anos 80. Nunca se escondeu que a musicalidade do Apokalyptic Raids (de onde será que vem o nome da banda?) é altamente influenciada pelos primórdios do Hellhammer/Celtic Frost. Eu aprecio bastante a música do Apokalyptic Raids. Alguns podem até achar uma mera cópia, mas acho que, apesar da latente influência, a banda faz música verdadeira e atrativa. O que eu temia ocorreu, já se passava das 04h00 e eu tinha que correr para pegar a condução e voltar para o interior, mas isso não me impediu de conferir “I’m a Metalhead” (ainda mais foda ao vivo!), “Nightmare (In Frost and Fire)” (eu berrando o refrão), a jurássica “Eternal Gloom” (lá do primeiro álbum), a nova “Victory Beyond Imagination”, “Victim O’Velocity” e “Remember the Future”. Só por aí deu para notar o quão ‘evil’ é a musicalidade do Apokalyptic Raids e que apenas “A Morte é Real” em forma de música. Lamentei profundamente não poder ver o show todo, mas ao menos metade dele eu conferi.
Apesar (de o grande pesar) e todo o caos que rondou o ‘fest’, os shows foram realizados, meio que “nas coxas”, é verdade, mas pior seria (esse não deve ser o pensamento, afinal certas coisas têm que se revistas para que isso não ocorra) não ter ocorrido o evento. Infelizmente boa parte do público se apega muito a shows no Recife Antigo, mas os poucos locais disponíveis para realização de eventos se mostram com um amadorismo impressionante. É olhar para outros locais, mesmo que fora do Recife Antigo, pois o mais importante é que as coisas aconteçam da maneira mais profissional possível. Mesmo assim Léo Frias merece aplausos, pois mostrou preocupação e fez a correria para que o “Old School Attack” ocorresse.