Passados alguns dias, depois de viagem e um maldito resfriado que me acompanha, ainda, vou aqui tentar passar para os leitores o que foi o Abril Pro Rock deste ano.
Inicialmente pensei em abordar um pouco da história do festival, que agora em 2018 completou 25 anos ininterruptos de atividades em prol da cena alternativa. O festival sempre teve como intuito divulgar os mais variados estilos de músicas dentro do estilo Rock, porém seu início teve maior ênfase na cena Manguebeat, em alta naquele distante 1993, vindo a abrir mais espaço para o Heavy Metal anos depois. Porém decidi apenas fazer esse pequeno - muito pequeno - histórico sobre o início do Abril Pro Rock. Assim, venho para o momento atual...
Depois de tantos anos e tendo em seu currículo grandes patrocínios, o Abril Pro Rock sofreu um grande abalo agora em 2018, no que se diz respeito ao maior patrocinador. A grande crise - mais causada pela política e suas raposas que a dominam - atingiu o festival. Assim, algumas mudanças tiveram que ser feitas. A primeira foi a mudança de local. Por anos o Classic/Chevrolet Hall abrigava o festival, mas em decorrência do já mencionado - patrocínio - a produção decidiu por mudar o local. Este ano quem abrigou o evento foi o Baile Perfumado, local bem menor, porém de fácil localização e não tão distante, seja para quem vem de outras cidades/estados, seja para quem é da própria capital pernambucana. Por ser menor, o local deixa o público mais perto (sobre isso falarei mais adiante), e a sua acústica é excelente, além do mais deu para se livrar da horrível cerveja que era posta à venda no Classic/Chevrolet Hall. Sobre a marca de cerveja, o Abril Pro Rock, em parceria com a Capunga, disponibilizou ao público uma boa cerveja artesanal, com um preço bem chamativo. Boa sacada!
Mesmo com a mudança de local e com um local menor, não houve mudanças no que se diz respeito a disponibilização dos palcos, ou seja, dois palcos: um principal, maior, e outro menor, armado ao lado do principal. O festival sempre foi bem conhecido pelo imediatismo entre shows. Assim, com relação aos intervalos entre os shows, eles continuaram sem existir. Por um lado isso é bom, por outro, não dá muito tempo para que se percorra o local para se ver os stands ou conversar um pouco, já que, ao menos para quem vai cobrir o festival, isso é difícil, afinal tem que prestar atenção aos shows, bater fotos, etc., mas uma fugida vez ou outra, era possível.
Sobre o público, bem... Vamos ao primeiro dia do festival.
Dia 27 de abril, uma sexta-feira. Quando chego em Recife sou logo recebido por uma forte chuva, e chuva é o que não está faltando em Pernambuco este ano, felizmente. Mas, como todos sabem, chuva geralmente afasta público de shows, o que não deveria ocorrer nesse primeiro dia de festival: a chuva afastar o público, uma vez que a chuva que caiu foi apenas no final da tarde, deixando o período noturno praticamente com céu aberto. Depois da sempre atenciosa receptividade do casal Milla e Alcides Burn em seu apartamento, onde por anos venho montando meu QG, me dirijo ao Baile Perfumado, por volta das 20h00, com Washington Pedro, e depois de algumas voltas conseguimos o local para estacionar o carro. No local os stands já estavam praticamente todos organizados. Como já estava dentro, apenas me dirigi ao local indicado para pegar as pulseiras de imprensa, pego a minha, faço um lanche (com boas opções e um preço até que justo, em se tratando do tipo de evento). Fui dar uma olhada fora, e a movimentação era bem pequena. Percebi que não haveria um grande público para a primeira noite do festival, dedicada a estilos mais alternativos, mas sem deixar de lado bandas de estilos mais diretos, como é o caso do ex-Ramones Richie Ramone, e os filhos bastardos do Motörhead, Asomvel.
Atraso para ter início os shows? De forma alguma! Atraso é uma palavra praticamente inexistente no vocabulário da produção do Abril Pro Rock e, assim, às 21h30, a primeira banda da noite começava a sua apresentação. Como mencionado, a primeira noite do festival abre espaço para bandas com estilos mais alternativo, algumas que só vejo/escuto em eventos assim. Esse é o caso do 70mg. No palco os músicos nos fazia voltar no tempo, com um visual meio hippie e com uma música que viaja em diversos estilos, indo do Rock ao Psicodélico, com algo de Progressivo e até música regional. É uma música bastante interessante. Não é algo que eu vá escutar com frequência, mas cai muito bem na proposta do Abril Pro Rock, que sempre foi a de unir os mais diversos estilos musicais. É uma banda bastante interessante, inclusive tendo em seu ‘line up’ músicos de banda de Thrash Metal de Caruaru, cidade natal do 70mg. O público, muito pequeno, até que curtiu, e quem não curtiu, prestou atenção à performance da banda em palco.
O público ainda entrava no local, mas já passava das 22h00 e mesmo alguns ainda chegando, o movimento não era tão intenso. Assim dava para perceber que a presença de público na primeira noite seria bem fraca. E mesmo tendo aumentado com o passar do tempo, o número de presentes foi bem decepcionante. Sem qualquer dúvida, em anos que vou ao Abril Pro Rock, esse foi o dia que menos deu público no evento.
Voltando ao shows, como já mencionei, não havia intervalos entre uma banda e outra. Para minha surpresa, a segunda banda da noite foram os ingleses do Asomvel (quase digito Motörhead). E a semelhança com o Motörhead não está, apenas, no país de origem. O Asomvel é um ‘power trio’, suas vestimentas e presença de palco são bem semelhantes ao lendário Motörhead. E o que se falar do baixista/vocalista Ralph? Além do baixo, que é idêntico ao de Lemmy, o próprio Ralph é igual a Lemmy, quando Lemmy era mais jovem. Incrível! A banda em palco é boa? Bem... Claro! A sua música é totalmente influenciada pelo Motörhead (estou sendo redundante, né?). É aquele Rock Pesado, despojado, rápido, sujo, com algumas linhas de Speed Metal. Complementado pelo membro fundador e guitarrista Lenny Robinson e pelo baterista Josh Stephen, a banda fez um show, de certa forma, curto, porém de muita energia, como deve ser um show de uma banda de Rock. Os caras, ao fim, ainda saíram para dar uma volta pelo local e tirar fotos com quem quisesse.
Na sequência veio o Plugins, banda a qual eu apenas já tinha ouvido falar, mas não conhecia sua sonoridade. Logo de início deu para notar qual é a da banda, ou seja, fazer um som com influências modernas, com muito groove e influência carregada de levadas Rap, o que juntando tudo nomeamos como Alterna Metal. Contando com uma sonorização de alto nível, toda a parte instrumental ficou bem definida, principalmente o baixo, que ficou bem audível. Deu até para sacar as letras, bem críticas, como esse tipo de música pede. Não é bem meu estilo. Na verdade, não tenho paciência para o estilo, mas parte do pequeno público foi para a frente do palco agitar. Banda bem competente no que faz.
Às 23h40, no palco principal, mas outra surpresa, em se tratando de ordem das bandas, até porque pensei que Richie Ramone iria fechar a noite. O ex-baterista do Ramones (que fez parte da banda de 1983 a 1987) se revezou entre a bateria e vocais e apenas os vocais. Quando ia apenas para os vocais o guitarrista Ben Reagan assumiu as baquetas. Visualmente ficou bem interessante essa mescla e até ajuda a Richie a descansar um pouco, afinal ele já conta com 60 anos de idade. Pelo que notei, o ‘set list’ trouxe músicas de muitas fases do Ramones, até mesmo aquele período que Richie não fazia parte da banda, assim “Durango 95”, “Chasing the Night”, “Blitzkrieg Bop”, “Animal Boy”, “Sheena is a Punk Rock”, entre tantas outras, foram tocadas. Até houve um pequeno problema em uma das músicas (acho que foi em “I Know Better”), o que não impediu de o público cantar o seu refrão enquanto tudo se arrumava, tirando um largo sorriso de Richie. Foi um show bem energético, como não poderia deixar de ser, até mesmo em razão dos clássicos tocados. Após o fim do show, Richie Ramone e sua banda foram para o seu stand e lá tiraram algumas fotos. Richie não se demorou muito, pareceu bastante cansado e se retirou sem conversar muito. Mas, enfim, tirou um pouco de seu tempo para atender alguns fãs.
Sem muita demora, o palco secundário, às 00h35, já recebia o Mad Monkees. E o mais interessante no Abril Pro Rock é essa oportunidade que o festival abre para que possamos conhecer novas bandas. O Mad Monkees vem do Ceará e eu me espantei com a qualidade sonora da banda. Com um entrosamento fantástico, sua musicalidade caminha entre o Stoner, inserindo uma agressividade Rock, com partes mais despojadas, sujas, e até mesmo algo mais Sludge (como ouvido na terceira música do ‘set list’, ao qual, infelizmente, não tive acesso). Pena que após o show anterior, o público que já era pequeno, diminuiu ainda mais. Uma pena mesmo, pois a qualidade desses cearenses merecia ter sido vista por um público maior. Mas alheia a isso, a banda fez um show correto, pesado, instigado, com muita movimentação em palco e com uma musicalidade que agrada diferentes “tribos”. Para mim foi a grata surpresa da noite.
Anunciada como a “maior banda de Rock do mundo”, a americana Supersuckers foi a responsável por fechar a primeira noite do festival. Bem, achei exagerado o título dado à banda, mas seu Rock N’Roll é muito bem feito e o visual de motoqueiros/cowboys cai bem com a música feita por eles. O trio é bastante seguro em palco, sem muita invenção, afinal o estilo tocado pede algo direto, mais sujo. Algumas nuances de Hard Rock (bem pequenas) e uma agitação grande. Mas, se o público já era pequeno no show anterior, boa parte já havia debandado e a parte que ficou já não demonstrava tanta empolgação, demonstrando cansaço. Entre as músicas próprias, ainda mandaram um cover para “Cowboy Song” do Thin Lizzy, e tá aí uma banda que influencia bastante o Supersuckers. Enfim, apesar do já estampado cansaço e de ser a última banda da noite, o show foi bem interessante.
Então era hora de dormir, tentar descansar um pouco, pois o sábado já tinha se iniciado e logo mais recomeçaria a maratona de shows e a expectativa de um público bem maior, como vem acontecendo nos últimos anos na noite dedicada às vertentes mais pesadas...
As expectativas aumentavam a cada minuto antes do início da segunda noite do Abril Pro Rock. Como sempre, procuro chegar um bom tempo antes do início dos shows, para “papear” um pouco no lado de fora, ver o movimento, rever algumas pessoas, algo bem interessante que o festival proporciona, afinal muitos se reúnem e voltamos a nos rever depois de algum tempo. Infelizmente tudo é muito corrido, então só dá para conversar um pouco e se despedir logo.
Como sempre, muitas pessoas vinham de cidades ou estados vizinhos, mas esse ano algumas caravanas faltaram, como, por exemplo, a de Campina Grande/PB, mas pessoas da Paraíba, Alagoas, Sergipe, Rio Grande do Norte e até Ceará se fizeram presentes. E pela movimentação, o público iria comparecer em bom número na “Noite do Peso” do Abril Pro Rock.
Depois de uma cerveja, algumas trocas de conversas, corro logo para pegar o credenciamento de imprensa e ver os shows desde o início.
Novamente a pontualidade do festival se fez presente e exatamente no horário para ter início os shows, ou seja, às 18h30, a banda Autopse começava a sua apresentação. Voltei a ver a banda depois de alguns anos. Cheguei a ver um show (ou mais de um, não lembro bem) em Campina Grande, há alguns anos, e naquela época a banda tinha uma pegada mais moderna, bem diferente do que pude presenciar no Abril Pro Rock. A banda agora faz uma linha mais Death/Thrash Metal, com os vocais de Daniela Serafim bem mais agressivos, indo do gutural ao rasgado, lembrando algo de Angela Gossow (ex-Arch Enemy) e Mayara Undead (Torture Squad). Outra mudança foi na língua das músicas, agora todas em inglês. Há quem não goste da sonoridade da banda, mas o que vi em palco foi uma banda que evoluiu assombrosamente, não só nos vocais, mas em toda a parte instrumental, com a baterista Janaina Melo destruindo seu kit; Gustavo Telles deixando o som mais denso com suas linhas graves de baixo e com Raphael Felipe segurando bem a onda de a banda contar com apenas uma guitarra. Que início de segunda noite do Abril Pro Rock!
A segunda banda da noite foi o Matakabra. E já começou sua apresentação praticamente emendando com o show da banda anterior (lembrem-se do imediatismo que falei lá no início). A banda tocou no palco maior e maior também já era o público nesse momento. Já havia visto um show da banda e a achei extremamente competente no estilo que se propõe a fazer. A banda é adepta do Metalcore, assim ouvia-se passagens bem agressivas, com andamentos mais cadenciados e vocais que iam de algo totalmente brutal a momentos mais calmos. A parte sonora do festival estava ótima, e assim tudo ficou bem audível e definido no show dos pernambucanos, que ainda tiveram o convidado Andre Arcelino (vocalista do Hanagorik) no cover de “Unknown”, numa homenagem ao Hanagorik, que havia sido escalado para o festival, mas que por problemas de saúde de um de seus integrantes, não pode tocar.
A essa altura o público já ultrapassava, em muito, o que esteve presente na noite anterior, mostrando que o Heavy Metal (e seus derivados) tem bastante força no festival, com o público se mostrando mais interessado do que público de vertentes mais alternativas. E nesse meio, muita gente se confraternizando, afinal muitos que comparecem ao festival não vão apenas pela música. Existe ainda aquele sentimento de amizade e do pessoal querer se ver.
A banda potiguar Heavenless foi a terceira da noite e enquanto entoavam uma “Intro”, o guitarrista Vinicius Martins chamou o público para perto, mostrando bastante instigação. Entre o Death Metal, com passagens mais densas e pesadas, como ouvido em “Hatred” e o Hardcore, logo na música de abertura, “Evisceration”, a banda fez um show com uma presença de palco marcante e botando o público para agitar. Também é notório que a banda se utiliza de alguns elementos industriais, mesmo quem em doses pequenas e o uso de efeitos no baixo e até mesmo sua distorção, fez com que durante a execução de “Enter Hades” (terceira música) uma das cordas do baixo de Kalyl Lamarck (também vocal) arrebentasse. Mas nada de o show parar, afinal tinham apenas 30 minutos. O visual de palco ficou bacana e a musicalidade da banda agradou bastante. Nos momentos mais velozes/agressivos, o público tratou de abrir algumas rodas, enquanto que nas partes mais pesadas e marcadas, se aproveitava para bater cabeça. Foi um show intenso, com Vinicius indo para o braço da galera ao final. Complementa a banda Vicente Andrade, baterista que mostra desenvoltura e qualidade técnica, seja nas partes mais violentas ou nos andamentos mais trabalhados.
De volta ao palco maior (ou principal, como queiram), era a vez uma banda bem controversa, mas, sinceramente, se os caras da banda (ou algum deles) tem grana, isso não é a questão. Musicalmente, o Armored Dawn é uma banda de uma qualidade incrível, com músicos tarimbados (a banda é formada por Eduardo Parras, vocal; Tiago de Moura e Timo Kaarkoski, guitarras; Fernando Giovannetti, baixo; Rodrigo Oliveira, bateria; e Rafael Agostino, teclados) e conhecidos por já terem tocados em bandas do nível de Korzus, Wizards, Ravenland, entre outras. A postura de palco fez com que alguns menos desavisados pensasse se tratar de uma banda ‘gringa’. Não só a postura, mas toda a qualidade técnica. Claro, muitas vezes no Heavy Metal a qualidade técnica fica em segundo plano, afinal, qualidade sem ‘feeling’ não dar em nada. Mas devo dizer que a banda cumpre bem o seu papel de executar um Heavy Metal que agrada aos fãs do estilo, trazendo algo de Folk e até mesmo de Viking, inclusive nas vestimentas do vocalista. Foi um ‘set list’ coeso, seguro, de uma banda com um nível absurdo de qualidade.
Nada de descanso. Os shows não tinham espaço entre um e outro e era uma maratona intensa. Então, vem a mudança de estilo e no palco menor a banda cearense Damn Youth, que foi escalada para substituir a vaga deixada pelo Hanagorik. E em plena divulgação de seu álbum de estreia, “Breathing Insanity”, lançado recentemente, a banda não se fez de rogada e simplesmente fez um dos melhores shows da noite! Pela primeira vez nos dois dias de festival vi a frente do palco ficar bem caótica. A banda detonou um furioso Crossover/Thrash Metal sem nenhum pudor e os ‘circle pits’ permaneceram durante toda a meia hora de show feito pela banda, com intervalos curtos, quando o vocalista Elton Luiz dava pausas para pequenos diálogos. Por momentos a Damn Youth chega a lembrar o Violator, seja em alguns sons, na postura e movimentação de palco ou até mesmo na já famosa frase “Foda-se Jair Messias Bolsonaro”. Enfim, não houve trégua do primeiro ao último segundo da apresentação do Damn Youth e o sorriso estampado na cara do público mostrou que o show foi realmente intenso!
O Noturnall, que tem como ‘frontman’ Thiago Bianchi, nasceu como uma banda de Heavy Metal melódico, ou ao menos isso se esperava. Mas com o passar do tempo a banda procurou fugir dessa linha sonora, mesmo que ainda traga nuances do estilo, até mesmo em razão da bagagem dos músicos que fazem parte do Noturnall. Mas logo em “No Turn At All” a banda mostrou um som mais agressivo, principalmente nos vocais de Thiago, com linhas mais gritadas e praticamente sem vocais mais limpos. Em palco, uma boa movimentação e um pequeno show à parte do tecladista Junior Carelli, que se movimenta bastante. A banda já conta com três álbuns de estúdio lançado, e apesar de eu não conhecer a discografia da banda a fundo, foi notório que o ‘set list’ passeou por esses discos. Ainda houve tempo para a participação especial de Alirio Netto (Age of Artemis) em algumas músicas, inclusive no cover de “I Want Out” do Helloween. Foi um show bacana, com cara de festa, mesmo, em palco.
Gosto bastante dessa mescla, num festival do porte do Abril Pro Rock, de estilos. Ajuda a não cansar o público e, ainda, a o deixar mais a vontade para escolher qual banda/estilo ver o show, afinal, como já mencionei, boa parte do público não vai apenas pelos shows. Eu, como fui fazer a cobertura, tive que sair entre um show e outro para poder comer, uma vez que a área de comidas ficava mais afastada dos palcos. E nessas minhas andanças pude ver que o público estava bem espalhado; alguns comendo, outros bebendo; outra parte vendo os stands, conversando...
No palco menor era a vez do mineiro Uganga apresentar ao público do Abril Pro Rock seu Thrashcore. A banda tem uma bagagem grande, já tendo feito algumas turnês pela Europa, mas só agora tocando em terras pernambucanas. Capitaneada pelo carismático ‘frontman’ Manu Joker, que já fez parte do lendário Sarcófago, a banda traz uma musicalidade com características próprias, em nada lembrando a ex-banda de Manu. É música brasileira, com sangue nos olhos, com a linguagem das ruas e o dedo na ferida. Mas nada de confundir com Metalcore. Na verdade, é uma música que foge de estereótipos, mesmo que traga consigo algo de Thrash Metal e Hardcore, com certo groove em algumas passagens. No ‘set list’ músicas como “Guerra”, “7 Dedos” e a excelente “Nas Entranhas do Sol”. E assim como em todas as demais banda, a sonorização estava excelente. Em palco, uma banda que transmite uma carga de energia interessante, conseguindo agitar o público presente, que se esbaldou ainda mais quando mandaram o cover de “Troops of Doom” do velho Sepultura. Foi um show curto, sem malabarismos, mas certeiro.
Um dos momentos mais esperados do festival se aproximava. Praticamente todo o público foi conferir o show dos portugueses do Moonspell. Não era para menos, pois logo com “Em Nome do Medo”, apenas com a presença do vocalista Fernando Ribeiro nos momentos iniciais, já deu para sentir que seria mais que um show. Seria um verdadeiro espetáculo. E foi isso que o público teve durante mais de uma hora de show. Fernando Ribeiro sabe cativar o público como poucos. Tem uma forte presença de palco, boa movimentação e as músicas, cantadas na língua de nossos colonizadores, facilitaram para que muitas delas fossem cantadas junto (público e banda). A banda vem em plena e forte divulgação do seu novo álbum de estúdio, “1755”, e dele veio músicas como a faixa-título, “In Tremor Dei”, “Desastre”, “Ruínas”... Enfim, se a banda tivesse tocado todo o álbum, seria muito bem vindo, afinal é um álbum praticamente perfeito, em minha humilde opinião. Mas, claro, a banda tem uma vasta discografia, e temas como “Night Eternal”, “Opium” e “Vampiria” não tinham como ficar de fora. Ressalto que a parte cênica é muito forte no Moonspell. Fernando não apenas canta as músicas, mas as interpreta mesmo, fazendo uso de máscaras, entre outras peças que certas músicas pedem. Pontos altos? Desde que o show teve início. É uma banda ímpar, de uma musicalidade incrível, atrativa para muitos, mas o cover de “Lanterna dos Afogados” era uma das músicas mais esperadas, assim como o maior clássico da banda: “Alma Mater”. Em meio a um ‘set’ bem longo, ao que me parece a banda deixou de tocar as duas últimas músicas de seu ‘set list’ regular. Nada que tirasse o brilho de um show memorável, uma apresentação irretocável e que foi além da simples música. Só estando lá para sentir.
Foi notório que após o show do Moonspell parte do público começou a se retirar, mas ainda haviam shows; mais duas bandas ainda tocariam...
A primeira foi a veterana Decomposed God, que mais uma vez subia ao palco do Abril Pro Rock. Atualmente finalizando os detalhes para lançamento de seu novo trabalho, o quarteto formado por Luiz Tattoo (vocal), Marco Antônio Duarte (guitarra), Jean Marcel (baixo) e Wagner Oliveira (bateria), teve a dura missão de ainda manter o já cansado público ativo e com energia. No ‘set list’ músicas dos dois álbuns já lançados pela banda e que ganharam nova roupagem para o novo lançamento, entre elas “No Gods”, “Hipocrity Liars” e “Memorial Rests”. Em palco a fúria e técnica de sempre, entre partes brutais e passagens mais apuradas e pesadas. Mas é de se mencionar o sempre incrível Wagner. E acredito que já disse isso em outras resenhas, mas o cara é simplesmente um dos melhores bateristas de Death Metal que o Brasil já pariu. Impressionante como ele consegue desenvolver certos andamentos. Mas a banda toda demonstra estar em seu melhor momento. E durante todos esses anos de atividades, o Decomposed God mostra que no palco é o melhor lugar para mostrar como fazer música visceral, pesada e Death Metal de alta qualidade e com características próprias. Mesmo com o cansaço dos muitos presentes, a banda conseguiu com que muitos mantivessem os olhos grudados em sua apresentação.
E estávamos chegando ao fim. O final é sempre como chegar ao fim de uma longa maratona, já que dói tudo, ainda mais para quem já tá ficando velho. Se bem que andando pelo local vi muita gente jovem já caída pelos cantos. Os excessos cobram caro.
A parte mais estranha no show do Immolation apareceu antes mesmo do show, já que com o fim do show da banda anterior a equipe de palco ainda fazia ajustes, o que demorou um pouco. A banda só veio subir ao palco alguns minutos depois, mais precisamente às 01h05. Como era de se esperar e como a banda já vem fazendo nos shows dessa turnê, deram início com “The Distorting Light”, música que abre o mais novo álbum do Immolation, e uma das músicas mais densas e horripilantes do Death Metal. É uma música que exala o que mais tem de doentio no estilo, e uma letra que escancara a podridão humana (amantes do Death Metal, adquiram “Atonement” e saibam do que estou falando). Mesmo com os diversos shows nas duas noites, a parte sonora ainda estava muito boa, algo essencial para uma banda do estilo do Immolation. Vocais aterradores de Ross Dolan ditavam o andamento das músicas e o seu baixo ficou bem audível, mesmo que a massa sonora por muitas vezes aparecesse de forma cavalar. Mas digo que o destaque mesmo foi para o guitarrista Robert Vigna, com sua forma peculiar de tocar guitarra. Complementa a banda Steve Shalaty, baterista exímio, que sabe dosar velocidade, agressividade e partes mais marcadas, além do outro guitarrista Alex Bouks. E para mostrar que a ênfase seria maior no novo álbum, o ‘set’ contou, ainda, com mais quatro músicas dele: “When the Jackals Come”, “Thrown to the Fire”, “Destructive Currents” e “Above All”. Mas o passado não foi esquecido e se fez presente com “Immolation”, advinda do primeiro álbum da banda. As músicas são bem técnicas e dificilmente descambam para a pancadaria desenfreada, como é o caso de “Father, You’re Not a Father”, com suas bases marcadas. O público atentamente olhava para o palco e mesmo quem estava sentado (esse já era o meu caso), não tirava o olho da banda. Enfim, não houve perda de tempo com conversa entre banda e público, apenas Death Metal emanando dos PAs, mas a maratona de shows sempre deixa o público bastante desgastando e isso influencia na hora dos últimos shows.
Com relação à parte organizacional do festival, a produção se mostrou valente, guerreira, deixando tudo praticamente, ao menos ao público, perfeito, sem falhas. Mesmo não contando com o seu maior patrocinador, fez tudo para que deixasse a todos satisfeitos. Claro, isso não é possível, afinal cada um tem seu gosto. Mas no que se refere a localização, organização, sonorização, não há muito o que se reclamar. Achei que a cerveja poderia estar mais gelada, afinal estamos em Recife, cidade muito quente e uma lata de cerveja que não esteja muito gelada rapidamente vai esquentar na mão.
E como em todo o final de uma edição do Abril Pro Rock, já fica a expectativa para a edição do próximo ano. E sendo no Baile Perfumado (escolha bem acertada) ou em qualquer outro local, lá estarei novamente. E sei que boa parte de quem foi este ano também lá estará.