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Reviews Shows

ALTERA O
TAMANHO DA LETRA
 

Recife Metal Law - O seu portal de informação!

 

The Metal United

Evento: The Metal United
Data: 23/06/2018
Local: Estelita Bar. Recife/PE
Bandas:
- Kaotk (Death Metal - PE)
- Metal Comando (Heavy Metal - PB)
- D.F.C. (Hardcore/Crossover - DF)
- Luxúria de Lilith (Black Metal - GO)
- Taurus (Thrash Metal - RJ)

Resenha: Valterlir Mendes
Fotos: Rosberg Rodrigues


Há anos eu não tinha notícias de um evento realizado na véspera de uma das festas mais populares da Região Nordeste e ainda mais popular em Pernambuco. Para ser mais exato, lembro de um ‘fest’ que ocorreu na véspera de São João há muitos anos, no saudoso Armazém 14, no Recife Antigo, o qual teve como atração principal o Andralls.

Aquele evento ficou ‘martelando’ minha cabeça após o anúncio desse “The Metal United”, evento novamente capitaneado pelo Levi Byrne, um dos caras que mais vem fazendo pelo Heavy Metal Underground por essas bandas. A razão para ficar ‘martelando’ foi porque, naquela época, eu me impressionei com o tamanho do público, muito grande para uma véspera de festa popular. E o que isso tem a ver com o público Heavy Metal? Bem, em tempos atuais, muita coisa...

Pegar a estrada em plena véspera de São João, saindo do interior, era ver uma paisagem esfumaçada, devido aos diversos fogos de artifícios e fogueiras espalhadas pelas ruas. Não em tanta profusão como anos atrás, mesmo assim com muita fumaça, ainda. Além disso, as vestimentas típicas desse período, além dos palcos montados para satisfazer “os matutos” (que não achem que isso aqui foi posto de forma depreciativa, mas é um termo bem usado, ainda, para chamar o pessoal que gosta de curtir as festividades juninas). Até paramos num posto para um lanche e eu (mais os dois amigos que foram comigo) fui olhado com olhos arregalados. (risos) Bom saber que ainda olham com certo olhar espantado para quem foge de algumas festas populares.

Viagem tranquila, levando-se em conta se tratar de um dia de festas. Trânsito calmo e uma chegada quase acertada no Estelita Bar, que mesmo quando somos guiados pelo GPS nunca acertamos o local (coisas de “matutos do interior”). Chegamos por volta das 20h30 e o movimento não era tão grande. Porém, nesse horário, as portas do Estelita Bar já estavam abertas para entrada do público. Ao entrar pude ver certa movimentação no local, com muitos stands de venda e alguns Headbangers já transitando por lá.

Os shows estavam marcados para ter início às 21h00, e quase que pontualmente (com apenas dois minutos de atraso) as apresentações foram iniciadas. Isso foi realmente importante, tendo em vista que o evento contou com cinco bandas.

O Kaotk foi a banda responsável por dar início aos shows. No cartaz a informação de que a banda fazia Death Metal, mas não é bem esse estilo feito pelo quinteto. Ouvi muito de algo mais contemporâneo, chegando a lembrar algo do Metalcore, mas, felizmente, sem aquelas tediosas passagens limpas e de lamentos. Há certo groove na sonoridade da banda e muito, muito, peso, o que a afasta quase que totalmente do enfadonho (para o meu gosto) Metalcore. Diria que a banda faz uma linha mais Thrash Metal, com algo mais técnico e até mesmo levadas Death Metal, com uso de boas melodias. Foi a primeira vez que pude ouvir a sonoridade da banda e gostei bastante, principalmente das guitarras (a cargo de Stênio Lima e Willams Reis), com riffs certeiros e solos de pura inspiração, e do monstruoso baterista Yarkko Sena, que simplesmente destruiu, em levadas certeiras e violentas. Apesar de a sonorização carecer de uma melhor equalização no início, ela foi até que bem clara para o público - que ainda chegava - e em nada atrapalhou o desempenho do Kaotk, que atualmente vem divulgando seu EP de estreia “Nascido em Meio aos Caos”, e dele foi retirado o ‘set’ feito pela banda. A banda é complementada por Márcio Pereira (vocal) e Lucas Bastos (baixo).

O show da primeira banda não foi tão longo e durou cerca de 30 minutos. Para pequenos ajustes no palco foram mais cerca de 15 minutos, assim era o espaço de tempo necessário para pegar uma cerveja, comer algo, trocar ideias com a galera ou simplesmente dar uma volta no local, olhar o merchandising...

Não demorou muito e outra banda que eu nunca havia visto ao vivo subiria ao palco. A Metal Comando é oriunda de Campina Grande/PB, cidade que disputa com Caruaru/PE o título de “capital do forró”, mas a banda mostrou que lá tem um pessoal que faz Heavy Metal e de muita qualidade. Pena que o seu álbum de estreia não estava disponível no dia do show, pois sua musicalidade, totalmente calcada no Heavy Metal tradicional, agradou em cheio aos presentes, que já estava em um número maior no momento de sua apresentação. Os acordes de “A Maldição do Velho Lobo” já mostrou que a banda bebe diretamente na fonte da NWOBHM, mas nem só daí vem a influência da banda, já que “Heavy Metal”, com sua linha instrumental e com os vocais de Thiago Pires, me remeteu diretamente àquele Heavy Metal feito aqui no Brasil, na jurássica década de 80. Sinceramente, a banda me empolgou bastante, assim como a muitos dos presentes. É um som de uma simplicidade e bom gosto que cativam bastante aos apreciadores do estilo. O ‘set list’ trouxe nove músicas, muitas delas fazendo homenagem ao Heavy Metal, tais como “Metal Comando”, “Hail Headbanger” e “Ataque Heavy Metal”. “Cavaleiro Infernal” me chamou muito a atenção, com sua levada praticamente Speed Metal, mas todas as músicas apresentadas são convites para bater cabeça. Ótimo show proporcionado pelo já mencionado Thiago, Kildare Dekzaell (guitarra, e que segurou bem o peso da banda), Allan Souza (baixo, e que não deixou lacunas na sonoridade da banda por contar com apenas uma guitarra) e Alisson Wagner (bateria, que substituiu o baterista, nesse show, Gleyson Araújo).

Praticamente não houve intervalo entre o fim do show do Metal Comando e o início do show do D.F.C.. Para ser exato - e se eu não marquei errado - foram apenas cinco minutos! E o que isso quer dizer? Quer dizer que o show dos brasilienses seria um caos total! Não, não é caos no sentido de que tudo deu errado, mas na fúria das músicas; na velocidade apresentada; na intensidade que é um show desses caras. Com músicas que mal duravam um minuto, a banda, capitaneado pelo inquieto vocalista Túlio, detonava um som atrás do outro, alguns antecipados por tiradas sarcásticas e ácidas e outras já emendadas com o som anterior. Mesmo com um público que não preenchia o local, a roda de pogo foi intensa, praticamente durante todo o show do D.F.C.. Apesar de eu ter achado o som da guitarra de Miguel um pouco “magro” demais (o que abria espaço para se ouvir bem nitidamente as linhas graves do baixo de Leonardo), a sonorização até que ficou boa, tudo bem audível em meio ao caos sonoro provocado pela banda. Foi um ‘set list’ com muitas músicas, entre elas as clássicas “V.S.F.N.I”, “Cidade de Merda” e “Petróleo”. Ainda houve espaço para o ex-baterista do Calibre 12 tomar o lugar de Fabrício, para tocar com a banda a clássica “Molecada666”. Essa seria a última música, mas a banda anunciou que tocaria mais duas músicas novas, ainda não lançadas e mandaram ver com “Bandido Bom é Bandido Eleito” e “Cuspindo Piche”, na melhor linha Hardcore/Crossover que a banda faz.

Antes mesmo do início do show da penúltima banda, Luxúria de Lilith, foi requerido pelos integrantes que as bandeirinhas e balões que “enfeitavam” o local fossem retiradas da frente do palco. Nada mais correto, afinal teríamos uma apresentação de uma banda de Black Metal, que vai totalmente de encontro com tais ornamentações. A banda tem como mentor Drakkar, atualmente responsável pelos vocais e bateria, e devo dizer que o cara é um exímio músico, afinal não é nada fácil manter a concentração fazendo os vocais e tocando bateria, ainda mais que a música do Luxúria de Lilith não é uma música “reta”, já que traz bastante melodias, com alguns andamentos mais compassados, os quais se misturam a partes extremamente velozes. O show começou com uma espécie de “Intro”, que recebe o título de “Aos Filhos de Asmodeus” e a partir daí deu para o público notar que teríamos um show que não seria apenas música. Com canções bem executadas e sem se prender aos estereótipos do Black Metal, a sonoridade da banda exalava maldade, sem necessariamente falar em demônios o tempo todo. A dicção de Drakkar é algo impressionante. Dá para entender cada palavra cantada por ele. A musicalidade fica presa na mente e como não se empolgar com temas como “Desejos Infames”, “A Volúpia Infernal” e da cadenciada “Da Morte Para Todo o Fim”, uma dos pontos altos do show. Drakkar estava muito bem acompanhado de Set (guitarra) e Arkana (baixo), que também eram responsáveis pelos backing vocals. Drakkar procurou sempre se comunicar com o público, agradecer aos presentes e mostrar a sua satisfação em estar fazendo parte daquele evento e estar tocando em Pernambuco. Bem, foi uma apresentação que satisfez não apenas aos amantes do Black Metal, mas de música bem feita, bem composta, bem tocada. Num ‘set list’ bem longo, não houve tempo para cansaço. Outros destaques no show, além da segura apresentação da banda, foram “Perpétua Escuridão”, “Pestilência”, “Caos e Destruição” e “Nasciturus”.

O último intervalo do evento estava acontecendo e pouca coisa estava sendo feita no palco, afinal, mesmo
com algumas oscilações, a sonorização estava num bom patamar e a bateria serviu para todas as bandas. Eu fiquei logo na frente do palco, afinal há muitos anos tinha vontade de ver a banda principal ao vivo.

Não demorou muito para que, após 31 anos, a lendária Taurus voltasse a tocar em terras pernambucanas. Daquela primeira formação, apenas uma mudança, já que hoje o baixista é Felipe Melo. E, apesar da idade, Otávio Augusto (vocal) e os irmãos Cláudio (guitarra) e Sérgio Bezz (bateria), mostram a mesma energia de quando apresentaram ao Heavy Metal Nacional “Signo de Taurus”, um dos discos mais icônicos do Heavy Metal brasileiro. E, como era de se esperar, o ‘set list’ do show foi baseado nesse disco, a começar pela instrumental “Signo de Taurus”, com o seu inconfundível coro gritado a plenos
pulmões por muitos dos presentes. De início achei a sonorização um tanto “magra”, o que só veio a melhorar no decorrer do show. Mas e daí?! Isso em nada atrapalhou o evento e a sequência das músicas foi para deixar qualquer fã “das antigas” emocionado: “Mundo em Alerta”, “Batalha Final” e “Império Humano”, músicas que mesclam Thrash, Speed e até pitadas do velho Heavy Metal, e que fizeram a alegria dos presentes. O mosh estava liberado e alguns até arriscando o stage diving, claro, além do velho e bem vindo (para testar os pescoços) bagin’! Lindo de se ver uma apresentação onde energia não faltava, mesmo que muitos dos presentes não tivessem tanto conhecimento das músicas mais novas (e não tão novas assim) “Fissura” e “Desordem e Regresso”, ambas do álbum “Fissura”, lançado em 2010. Otávio tem um forte carisma e sempre procurou interagir com o público, falando, entre outras coisas, como o público é importante para o Metal nacional e que sua presença (do público) é o ponto crucial para que produtores façam sempre os eventos. “Falsos Comandos” também faz parte do primeiro álbum, enquanto que “Trapped in Lies” e “Pornography” são dos álbuns cantados em inglês, onde Otávio não fazia parte da banda “mas que sinto um enorme orgulho em cantar essas músicas ao vivo”, declarou o vocalista. O final viria com “Rebelião dos Mortos”, “Damien” e a mais que clássica “Massacre”, cantada por praticamente todos os presentes. Viria, porque a banda, ao fim do ‘set’ repetiu “Mundo em Alerta”, numa levada bem veloz.O Taurus continua excelente, mesmo depois de anos. Show para nenhum fã de Thrash Metal botar defeito.  Enfim, sei que sentiria dores no pescoço no outro dia.

O público, bem eclético (no que se diz a idade) se fez presente de forma mediana. Claro, sempre pode ser maior, afinal o Estelita Bar não é um local difícil de lotar, mas, aí, vem o fator festejos populares, afinal as
festas juninas acontecem uma vez por ano e muitos não querem perder. Mas o que cada um faz com o seu dinheiro já não é problema meu.

Cheguei a ler nas famigeradas redes sociais reclamações acerca da mistura de estilos (???). Confesso que até hoje não compreendo tais pensamentos, afinal, nada melhor (na minha humilde opinião) que ir a um evento onde podemos encontrar diversos estilos dentro do Heavy Metal
sendo apresentados, desde que não se misture bandas de estilos que sejam White, Nazi, New Metal... O “The Metal United” fez isso para quem ama o Heavy Metal e seus subsestilos e nessa noite o público presente foi agraciado com Thrash Metal, Black Metal, Groove, Hardcore, Heavy Metal tradicional... Quem não foi em razão dessa tão reclamada mistura deve ter aproveitado a noite em frente à fogueira, comendo comidas típicas ou simplesmente na frente do computador, vendo sua banda preferida.
 
 
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