Evento: Doom Over Darkside
Data: 28/09/2019
Local: Darkside Studio. Recife/PE
Bandas: - Under the Gray Sky (Funeral Doom Metal - PE) - Obscurity Tears (Doom Metal - PE) - Scarlet Peace (Doom Metal - SE)
Resenha & fotos: Valterlir Mendes
Eu realmente fiquei empolgado quando foi anunciado o “Doom Over Darkside”, afinal não é sempre que se pode conferir um ‘fest’ com apenas bandas de Doom Metal. E mesmo que o estilo tenha, atualmente, muitos representantes, ainda continua relegado ao Underground do Underground. De qualquer forma, eu esperava um público interessante, já que o valor do ingresso era justo e o dia da semana propício, afinal era um sábado, dia que o pessoal considera ótimo para ir conferir algum evento.
Pela segunda vez eu estava indo conferir um evento no Darkside Studio, local que vem acolhendo diversos eventos Underground. O local é de fácil acesso, no centro da capital pernambucana. Apesar de pequeno e estar passando por algumas pequenas reformas, é aconchegante, e perfeito para eventos de pequeno porte.
Cheguei em Recife logo cedo e fui hospedado, mais uma vez, na casa do amigo Alcides Burn. Assim, logo no início da noite nos preparamos e rumamos para o Darkside. Já pude ver diferenças, tanto nas reformas, como em um lastro (ou algo do tipo), para receber as bandas. Para quem é baixinho já ajuda a ter uma melhor visão das bandas que tocam. No local, ainda, merchandising, tanto das bandas como outros vendedores.
A primeira banda da noite era a única que eu não havia visto ao vivo ainda, e havia escutado bem pouco. Com um início trazendo uma introdução de teclados e a figura da vocalista Márcia Raquel no palco, causando um impacto visual bem interessante e totalmente condizente com estilo praticado pela Under the Gray Sky, era dado início aos shows da noite. O show começou com uma “Intro”, instrumental, de andamento mórbido, totalmente cadenciada/arrastada, e que dava indícios do que veríamos a seguir: um Funeral Doom Metal bem feito, com os músicos mostrando que conhecem bem o estilo que praticam. Na música seguinte, que manteve o clima sombrio, achei bastante interessante a mescla entre os vocais graves/guturais, às vezes com uso de vocais limpos, do guitarrista Axel, com os vocais angelicais e belíssimos de Márcia, deixando a sonoridade bem atrativa, até mesmo para quem não conhece bem o estilo. O show seguiu um tônica densa, como era esperado. Mesmo com algumas inserções de algo mais ríspido, o que pudemos ver/ouvir foi uma banda mandando o melhor do Funeral Doom Metal durante toda a sua apresentação. No ‘set’ músicas como “In Limit of Soul”, “Prision Without Walls” e “Monster”. Ainda houve espaço para os cover “Solitude” do Candlemass, e “Run For A Fall” do Epica, e para uma breve fala da vocalista Márcia, falando da importância do apoio do público para que o Underground siga em frente.
O primeiro show da noite durou cerca de uma hora. Apesar da sonorização está ótima, alguns ajustes de palco foram feitos, o que levou cerca de meia hora para que a próxima banda desse início a sua apresentação.
A segunda banda da noite foi a Obscurity Tears. Já vi diversas apresentações desses pernambucanos, tanto na capital pernambucana, assim como pelo interior do estado. E nunca, nunca mesmo me canso de ver a banda ao vivo. A banda, durante todos os seus anos de existência, passou por diversas formações, mas manteve o seu núcleo principal: Jefferson Barreto (vocal/baixo), Evandro Andrade e José Alves (guitarra), sendo acompanhados por Bruno Lee (bateria). Claro, com os anos de estrada e as mudanças de formação, hoje a banda tem o puro Doom Metal, com vocais rasgados/graves, como estilo principal, tendo se afastado daquele Doom/Gothic Metal lá do seu início. Atualmente a banda vem divulgando seu mais recente trabalho, “Rise of a God, o qual eu adquiri lá, num box que traz todos os seus lançamentos físicos. Esse atual trabalho mostra a atual faceta do grupo, com boa influência do My Dying Bride em algumas músicas, até mesmo em razão da linha vocal adotada por Jefferson. E, apesar da sonorização está ainda muito boa, com toda a parte instrumental bastante nítida, algumas microfonias eram ouvidas. Fiquei até me perguntando se isso foi algo proposital, pois sempre sumia assim que a banda queria. De qualquer forma isso não chegou a ser um empecilho, criando até mesmo algo diferente no show da banda. Como dito, a banda vem divulgando seu mais recente trabalho, então era de se esperar um ‘set list’ com músicas novas. Entre elas “Rise of a God” (part I e II), “Progenysense”, “Interstellar” e “Lost in the Deep” (essa com a intervenção de Diego DoUrden nos vocais). Claro, também teve temas mais antigos como “Crying in Silence” e a bela “Ashes of a Paradise”, hoje com vocais agressivos. Prestigiar um show do Obscurity Tears é sempre ótimo, e dessa vez não foi diferente.
O show do Obscurity Tears findou por volta da meia-noite. Assim sendo, não seria uma noite de Doom Metal que se arrastaria (o trocadilho foi inevitável) até altas horas da madrugada. Porém, novamente, houve um grande intervalo entre o fim de um show e o início de outro. Com isso foi possível ver parte do público debandar. Uma pena, pois deixaram de ver um excelente show de encerramento.
Nem olhei o horário quando a Scarlet Peace deu início ao seu show. A banda voltou para a capital pernambucana após 15 anos. Naquele longínquo 2004 eu estava lá, vendo aquele show, no Dokas, e para mim inesquecível. Os anos se passaram, porém a qualidade técnica, instrumental e de palco da banda continua intacta. Melhor falando, a qualidade está excepcional! Doom Metal como só a banda sabe fazer, dando maior ênfase ao instrumental e com a parte vocal servindo como forte apoio. O início se deu, após uma “Intro”, com “Tempus”, do novo álbum, e mesmo com os teclados ali, no palco, ele não foi usado nessa música. Sinceramente, senti falta, pois os teclados criam um clima bem fúnebre nesse som. Com uma boa postura em palco, a banda fez um show muito correto. Doom Metal em sua essência, com uma parte ríspida aqui e acolá, ou até mesmo algo de Heavy Metal, como ouvido na terceira música, “Entre a Razão e a Fé”, também do novo disco, “Tempus Fugit”, mas soando realmente fúnebre, angustiante, densa. E mesmo assim, com toda a parte instrumental indo por esse lado mais arrastado, o baterista Alexandre simplesmente não aliviava em seu kit. Uma pegada realmente muito forte, pesada. Durante o show, entre as músicas, vinhetas eram ouvidas. Saliento que as músicas eram longas, mas carregadas de feeling e o vocalista/tecladista/guitarrista André mostrou toda a sua desenvoltura em solos de guitarra realmente inspirados. E não só nos solos, mas nos riffs também. E seria injusto não mencionar os músicos Paulo (baixo) e Ricardo (guitarra), que complementam a banda, e a qualidade sonora dela. A qualidade de cada integrante da Scarlet Peace é indiscutível e isso foi mais que comprovado nesse show. Uma pena terem pegado um público reduzido.
Gostei bastante da proposta do evento, em reunir apenas bandas de Doom Metal e com um número de bandas satisfatório. Porém, mesmo sendo apenas três bandas, o evento foi, de certa forma, demorado. Talvez em razão do estilo apresentado. Assim, poderia ter sido diminuído o tempo de apresentação de cada banda ou mesmo o tempo de intervalo entre elas. Dessa forma o público ficaria até o fim para ver todas as bandas. Mas isso é apenas um detalhe. Sei que quem ficou até o fim gostou bastante e curtiu cada banda.