Evento: Rebirth: 20th Anniversary Tour
Data: 15/07/2022
Local: Armazém 14. Recife/PE
Bandas: - Dune Hill (Hard n’Heavy - PE) - Angra (Heavy Metal - PE)
Resenha e fotos por Valterlir Mendes
Fazia anos (e põe anos nisso!) que eu não ia no Armazém 14, que por um tempo ficou fechado e passou por uma grande revitalização. O local, agora, está bem cuidado e foi ampliado. E se antes já era um local que comportava muita gente, que em eventos Underground era dureza encher, agora sua capacidade praticamente triplicou. Mudou, também, a sua entrada, que antes era pelo lado e agora ganhou “uma frente”, inclusive com o seu nome, algo que antes, que eu me lembre, não tinha.
E para lotar um local desse porte, Angra era uma das bandas mais indicadas, ainda mais fazendo uma turnê comemorativa de 20 anos de seu icônico álbum “Rebirth”, o primeiro sem o saudoso Andre Matos nos vocais.
Cheguei ao local do evento, após uma viagem demorada, por causa do infernal trânsito na entrada da capital pernambucana e parada na casa do amigo Alcides Burn, que sempre me apoia e dá “guarita” quando vou para Recife, por volta das 20h20. A abertura das portas (e não portões) estava prevista para às 21h00 (o que de fato ocorreu), e a fila já era enorme, quase chegando no Marco Zero (cerca de 400 metros do Armazém 14). Muita gente, mesmo, e advinda não só de Recife ou de Pernambuco. É o tipo de público que sempre comparece a eventos dessa grandeza e até mesmo gente que não se aprofunda no Heavy Metal, mas tem o Angra como banda favorita, independentemente de ouvir outras bandas do estilo ou não.
As pessoas ainda adentravam, de forma ordeira, no Armazém 14, quando a Dune Hill deu início a sua apresentação. Quando o show começou eu ainda estava fora, aguardando na fila, mas como precisava (e queria muito) ver o show da banda, corri para o local de credenciamento e consegui entrar, de forma rápida. E o público já era bem numeroso na apresentação dos pernambucanos. Muita gente já estava junto ao palco para prestigiar a apresentação da Dune Hill e o mais importante: foram mesmo para ver o show de abertura. Divulgando o novo álbum, “Song of Seikilos”, a banda usou parte do palco, com uma bateria sobressalente, com o baterista Otto Notaro ficando um pouco de lado (do palco). Assim, a banda não tinha todo o palco à disposição, mas teve seu espaço respeitado para fazer uma abertura em alto nível. Sem muita produção de palco, apenas com um telão exibindo seu logotipo, a Dune Hill fez um show bem seguro e profissional, mas, além disso, cheio de energia e com uma veia bem “Rocker”, afinal, é isso que sua música é. A sonorização pareceu não estar 100%, mas nada que prejudicasse a desenvoltura dos músicos, que apostou em músicas com uma pegada mais Hard n’Heavy, que é o estilo praticado pela banda. Guitarras (a cargo de Felipe Calado e André Pontes) bem pesadas e com solos bem encaixados e desenvoltos, bateria indo direto ao ponto, sem muitas firulas, baixo (empunhado por Pedro Maia) se fazendo presente o tempo todo, e com Leonardo Trevas mandando ver com seus vocais cheios de melodias e tons altos. Por algumas vezes o vocalista procurou conversar com o público, inclusive, dizendo que no show de divulgação de “Rebirth”, em Recife, em 2002, ele se fez presente, com os seus 14 anos de idade. A Dune Hill mandou músicas de seus dois álbuns, tais como “Set You Free”, “Eldorado” e “God Delivering”, do atual álbum, e “Seasons”, “Big Bang” e “Lamb of Gold”, do “White Sand”, lançado em 2014. Em “The Mirror”, música presente no mais recente álbum, Leonardo mencionou a participação, na música (em estúdio), de Andre Matos e de toda a sua felicidade de ter o falecido músico participando de uma música da banda. O público foi bem participativo durante todo o show de abertura, o qual foi encerrado com um cover de “War Pigs” do Black Sabbath.
Público devidamente aquecido... O show de abertura terminou por volta das 22h10, havendo um grande intervalo para últimos ajustes de palco, iluminação e sonorização para a banda principal dar início ao seu show. Nesse intervalo, um tempo para comer algo ou tomar uma cerveja. Para comer até que dava, mas o bar estava simplesmente abarrotado e apenas com um ponto para vendas, e perto do palco! Muita gente reclamou da posição do bar e, também, de apenas ter um ponto para vendas de bebidas, o que dificultou bastante para muitos. Alguns até apelaram para pegar cerveja, água ou refrigerante fora, justamente através do local que vendia comida, este bem afastado do palco.
Após cerca de uma hora, nos PAs, que já estava tocando alguns sons, começa a ser executada “Tom Sawyer” do Rush, que logo deu espaço para a introdução “Crossing” do “Holy Land”. Depois dela já mandam a clássica “Nothing to Say”, que abriu o show de forma bombástica! O grande público presente foi ao extâse! Eu também não esperava que o show fosse aberto dessa forma (apesar de o ‘set list’ dos shows dessa turnê está disponível na internet, não o procurei, justamente para ser surpreendido). No show do Angra a sonorização estava 100%. Límpida, tudo bem equalizada, com todo o instrumental bem definido e audível, o que proporcionou uma experiência excelente ao ouvir as músicas sendo executadas ao vivo, afinal, chegaram bem perto do que a banda faz em estúdio. Antes de começar a tocar as músicas do álbum aniversariante, mandaram “Black Widow’s Web”, do “Ømni”, com os vocais iniciais sendo feitos pelo guitarrista Rafael Bittencourt. E por falar em vocais, a versatilidade vocal nessa música é bem interessante, pois há vocais limpos, guturais, graves... Fabio Lione mostrou estar em grande forma, pois, durante todo o show, fez grandes interpretações, inclusive alcançando notas bem altas. Findado esse início, aí sim o álbum aniversariante começa a ser tocado na íntegra. Antes, porém, a introdução “In Excelsis”, para logo depois mandarem “Nova Era”, recebida com furor pelo público presente. Grande parte desse público se espremia em frente ao palco para ver de perto a banda. Chegar perto do palco era uma tarefa bem árdua, ainda mais que o Angra mostrou uma força musical muito grande e os seus fãs demonstraram que realmente são fãs, pois, por muitas vezes, as músicas eram acompanhadas em uníssono. O show se seguiu com as músicas sendo executadas na mesma ordem que se encontram no álbum. Assim sendo, mandaram “Millennium Sun”, “Acid Rain”, “Heroes of Sand”... E a pluralidade musical impressiona. Apesar de eu gostar das músicas que contém uma pegada mais “speed”, não se pode negar toda a criatividade da banda, que não se apega apenas a velocidade, já que podemos ouvir ritmos regionais, Prog Metal, Power Metal, tudo isso com um grande peso nas guitarras de Rafael e Marcelo Barbosa, este último também mostrando grande técnica nos solos. As linhas de baixo, por muitas vezes bem intrincadas, de Felipe Andreoli, acrescentam ainda mais versatilidade às músicas. E Bruno Valverde impressionou com suas linhas de bateria. O cara está tocando muito! Fabio, além das grandes vocalizações, se comunicou bastante com o público, seja pedindo a sua participação, seja conversando, mesmo. O português dele está muito bom. Mostrou respeito com o seu público e procurou aprender a nossa língua. O show continuou e com ele temas como “Unholy Wars”, “Rebirth”, “Judgement Day” e a excelente “Running Alone” se seguiram. E novamente abro parênteses para falar sobre uma música como “Running Alone”, que, como mencionei acima, é aquela típica música Power Metal, com muita velocidade, melodia e precisão cirúrgica do Angra. Muito me empolga pode ver a banda executar músicas com essa levada nos seus shows. Já “Visions Prelude” é uma música que contém vocais que contam com diversas alternâncias. Eu realmente fiquei impressionado com o que Lione fez nessa música. O cara apresentou, nela, vocais líricos, algo de tenor, agudos, passagens limpas... Fiquei boquiaberto com a interpretação vocal nesse som. Mais um tempo para interação com o público e dessa vez quem toma a palavra é Rafael, que falou sobre a turnê, a importância do álbum “Rebirth” para o renascimento da banda, a importância dos reencontros e de ver o público nos shows, após um período de pandemia, que tanta gente sucumbiu, e ainda que esse era o show de número 13, com lotação máxima. E Rafael deu ênfase ao número 13 por três ou quatro vezes, ao fim gritando “é 13, porra!” (seria alguma espécie de mensagem subliminar?). Após a execução do “Rebirth” na íntegra, o ‘set list’ ainda contou com “The Course of Nature” do “Aurora Consurgens”; “Metal Icarus”, advinda do último álbum com Andre Matos nos vocais, “Fireworks”, e que foi uma grata surpresa, ao menos para mim, já que esse foi o primeiro álbum do Angra que adquiri; “The Shadow Hunter” (com Rafael a iniciando no violão e mostrando todo o seu dote musical) do “Temple of Shadows”; “The Rage of the Waters” do “Aqua”, logo seguida da balada “Bleeding Heart”, presente no EP “Hunters and Prey”; e a Prog Metal “Upper Levels”, música presente no “Secret Garden”. A banda sai do palco, as luzes se apagam, porém o público não arreda o pé, pois sempre se espera o ‘encore’, o que de fato aconteceu. As luzes voltam a se acender, a introdução “Unfinished Allegro” é executada e logo abre espaço para a cultuada “Carry On”, que serviu para encerrar de forma fantástica um show fantástico, contagiante, e que agradou, com sobras, a cada um dos presentes. Foram para ver um espetáculo e foi o que viram. Banda perfeita em cima palco. Público perfeito em baixo.
Foram pouco mais de duas horas de show, agradando a todos, como já dito. Iluminação, por algumas vezes com certo exagero, mas, no total, bem feita; sonorização muito boa, deixando tudo bem audível e uma produção que não deixou a desejar. Bem, tirando só o fato de o bar ficar muito perto do palco e ter apenas um ponto para que se pudesse comprar bebidas. Com relação ao palco (mas aí já é um problema do Armazém 14), ele é, de certa forma, baixo. Dificulta para quem fica mais atrás, pois tem que tá ficando nas pontas dos pés para poder ver a banda. Mas também nada fora dos limites ou que fosse algo negativo para o show. Novamente sobre o público, ele compareceu de forma numerosa, não chegando a lotar o local, que é muito grande, mas em número que superou as expectativas. Não tivemos incidentes, a não ser uma ou outra pessoa passando mal, mas logo socorridas pelos bombeiros e sem maiores problemas. Uma noite, sendo redundante, fantástica!