“‘Pandemia’ não era para existir”. Essas são as palavras de Carlos Lopes. A maldita pandemia de Covid-19 ninguém queria que tivesse existido. Levou muitas pessoas queridas. Deixou cicatrizes profundas, mas serviu para mostrar quem é quem. Serviu para mostrar o quão fundo é o buraco que estamos. E serviu para Carlos Lopes, idealizador da Dorsal Atlântica, nos presentear com esse disco maravilhoso! É um disco honesto, algo corriqueiro na carreira dessa banda. Cheio de sentimentos. Não é apenas música. Vai além, assim como todos os trabalhos da Dorsal Atlântica. “Pandemia”, numa primeira ouvida, não é um disco fácil de digerir. Há os elementos básicos da Música Pesada nele, sim, mas não só isso. Há muito de música brasileira em todo o seu decorrer, além da hoje inseparável guitarra baiana de Carlos Lopes. Confesso que ao colocar o disco para rolar, pela primeira vez, algo soou estranho. Mas bastou repetir o disco para o começar entender, musicalmente. É música feita para quem gosta de música bem feita e sem preconceitos ou radicalismos pré-estabelecidos. A riqueza musical de “Pandemia” é de deixar qualquer fã da banda (e são esses que fizeram, novamente, o disco existir, apoiando o financiamento coletivo mais uma vez, para que Carlos - vocais, violões, guitarras, Cláudio Lopes - baixo e Braulio Drumond - bateria pudessem gravar o disco) atônito. E não, meus amigos, não! Não é um disco de “World Music” ou um disco Pop. É simplesmente um disco da Dorsal Atlântica, musicalmente, hoje, mais apegado as influências da música brasileira, sim, mas sem deixar de lado o peso característico do Heavy Metal e até mesmo levadas que são puro Hardcore. Com relação à parte lírica, também digo que é algo de difícil assimilação, caso o ouvinte não tenha um bom conhecimento sobre a história do nosso país e não conheça certos nomes importantes para essa mesma história. O disco, liricamente, tem influência do livro “A Revolução dos Bichos” de George Orwell, mas com algo do cotidiano e da história do Brasil, seja ela de muitos anos atrás ou atual. Interessante esse ‘crossover’ lírico. A gravação vem bem orgânica. Nada de ‘overdubs’ ou de enganação de estúdio. Tudo soa muito verdadeiro. A capa? Putz! A capa é um tapa na cara do antigo (des) governo e de seus cegos seguidores. Arte belíssima, a cargo de Cristiano Suarez. Quais músicas devo apontar como destaques? Como um fã da banda pode fazer algo do tipo? Vou tentar... “Burro”, com sua levada pendendo por Hardcore e com o final tendo a participação de Gael, filho de Carlos; “Resistência (Não Resiste)”, essa numa linha bem Power Metal e minha preferida; a própria faixa-título, que tem início acústico, com vozes limpas de Carlos, e que depois traz peso e velocidade, com destaque para as linhas velozes da bateria de Braulio e alternância entre melodias e agressividade; e “Infectados (Teocracia e Narco-Estado)”, com um casamento praticamente perfeito entre melodias instrumentais, melodias vocais e parte lírica... Apontei essas, mas daqui a pouco posso apontar outras. Enfim, o disco é cheio de detalhes e a cada ouvida percebemos algo que chama a atenção. A parte gráfica acompanha a grandiosidade do álbum. Num formato um pouco maior que de um EP (em vinil), a capa não traz o nome da banda e nem o seu título, vindo com um encarte sobressalente, com as letras, e mais outro (encarte) com fotos, ficha técnica, outros informes e os nomes dos apoiadores. É um disco que desde que o peguei vive rolando no meu som ou no som do carro. Simplesmente um disco maravilhoso!