Visions of Rock (Losna, Carrasco, Medicine Death e Parasital Existence)
Evento: Visions of Rock (Losna, Carrasco, Medicine Death e Parasital Existence)
Data: 16/09/2023
Local: Darkside Studio. Recife/PE
Bandas: - Losna (Thrash Metal/Crossover - RS) - Carrasco (Blackened Thrash/Speed Metal - PE) - Medicine Death (Death Metal - PB) - Parasital Existence (Death Metal - Uruguai)
Este ano está sendo bem prolífico, no que se refere aos eventos Underground na capital pernambucana. Praticamente todas as semanas ocorrem eventos dessa natureza, com a sua grande maioria sendo no Darkside Studio, que já se tornou o ‘point’ para abrigar o Underground da capital pernambucana. Sendo assim, muitas bandas, de praticamente todo o Brasil, estão aportando em Recife. E não só do Brasil, já que essa edição do Visions of Rock Festival também trouxe, pela primeira vez, para terras pernambucanas, uma banda uruguaia.
Porém essa edição, para mim, era bastante especial, pois por muitos anos (e lá no início do nosso contato o pedido era via cartas sociais) eu pedia uma vinda da Losna para Pernambuco. E, depois de muito tempo, isso aconteceu.
Um dos fatores que o pessoal reclama é que eventos no fim do mês não são bons, pois o pessoal tá sem dinheiro para poder prestigiar. Esse foi justamente no meio do mês, com ingressos condizentes com a realidade atual dos Headbangers e com a produção, que estava trazendo uma banda do Uruguai e outra do Rio Grande do Sul. Esperava-se um público bom...
Saí de minha cidade do interior, Macaparana, juntamente com um amigo, com tempo para chegarmos justamente quando o local já estivesse aberto para o público, qual seja, às 21h00. E chegamos lá neste horário, encontrando mais um conterrâneo nosso: Antônio “From Hell” Marques. E, fazendo um adendo a entrevista que fiz recentemente com a Losna, foi ele (Marques) quem me apresentou à banda, lá em 2004. Lá, também, alguns amigos de grupos de conversação e “das antigas”, que já fazia um tempo que não via. De qualquer forma, não era um movimentação tão grande. E como os eventos organizados pela Visions of Rock, capitaneada pelo Levi Byrne, sempre são rigorosos com os horários, não demorei e subi para não perder o início dos shows.
No local, um palco ainda baixo, porém com uma boa iluminação e a sonorização sendo bem cuidada para sempre melhorar. Além disso, vários stands, seja das bandas que tocariam, bem como de camisetas, CDs... Enfim, muito material disponível para alimentar o consumo de quem vai aos shows e quer comprar algo. Mesmo com a grana curta, ainda adquiri alguns materiais, ganhei outros (obrigado Débora e Fernanda - Losna, Alcides Burn e Hugo - Carrasco).
A primeira banda da noite foi a Losna, que tem a frente as irmãs Fernanda (vocal/baixo) e Débora Gomes (guitarra/vocal), além de Mateus Michelon (que ingressou na bateria da banda em 2021). Como era de se esperar, o show começou pontualmente. Com uma boa iluminação de palco e uma boa sonorização, o trio começou a destilar seu som amargo, mandando três músicas na sequência, “Street Fighters”, “After the Kuarup” e “Constellation Drama”, antes de Débora demonstrar a satisfação da banda em estar pela primeira vez tocando em terras pernambucanas. De início não houve grande interação da banda com o público, com a Losna apenas fazendo seu som no palco. O público se mostrou apático, apenas acompanhando o show, sem muita agitação. Algo que não afetou a performance da banda em palco. A banda faz uma sonoridade que mescla elementos do Hardcore, Thrash Metal e algumas pitadas do Death Metal, trazendo ‘quebras’ de tempo nas músicas, ou seja, alternando entre momentos mais brutos com algo mais cadenciado. É o tipo de som que fazem desde o seu início, sem procurar se adequar a esta ou aquela moda “do momento”. Como as próprias irmãs mesmo disseram por várias vezes: “Losna destila seu som amargo”. Com relação à qualidade instrumental, eu, por diversas vezes, fiquei olhando a técnica do trio. Débora traz diversos riffs, além de solos aos montões. Fernanda mostrou uma infinidade de passagens/andamentos no seu baixo, deixando o som da banda mais denso e Mateus simplesmente não aliviou no kit de bateria, tendo até mesmo espaço para um “solo” com seu bumbo legueiro (fiquei sabendo do nome do instrumento pelo próprio Mateus). Foi um show com mais de uma hora de duração e, entre as músicas próprias, houve espaço para um cover de uma banda que Mateus tocou, Inheritours, e um para o Morbid Angel (“Chapel of Ghouls”). Ah, não poderia deixar de citar que foi uma grande honra ter uma das músicas (“Slowness”) dedicada a minha pessoa, com a Débora mencionando os anos de contato e até as trocas de cartas. Além disso, Fernanda estava com a camiseta do meu antigo fanzine: Máquina do Metal Zine.
Após findado o primeiro show, temos o intervalo para ajustes no palco, troca de peças de bateria, equalização de som para a próxima banda... Aproveitei para trocar umas ideias rápidas com as meninas da Losna e, óbvio, pegar a camiseta da banda.
Voltando a falar sobre o tempo de intervalos entre uma banda e outra, esse foi um tópico já comentado no local do evento e algo que eu sempre procuro mencionar nas resenhas que eu faço. Mesmo que o evento tenha poucas bandas, o tempo de intervalo entre os shows acaba prolongando, em demasia, os eventos. Às vezes é algo que foge do controle da produção, mas é um ponto a se observar para os próximos eventos. Quer queira, quer não, acaba que as últimas bandas tocam muito tarde e com um público já bem menor.
Próxima banda da noite foi o Carrasco, veteranos da cena pernambucana e que passou um período inativa. Digo logo que estava esperando um show cheio de energia, como sempre foram os shows do trio formado por Opressor Atômico - não irei usar o pseudônimo Ghul-Ghul - (vocal/guitarra), Torturador (baixo) e Terror Holocausto (bateria). E energia não faltou, porém o público permanecia inerte, sem agitar muito e apenas batendo cabeça. E olha que a banda mandou sons como “Tormento Eterno”, “Leviatã” e o “Feiticeiro”, onde até o guitarrista/vocalista do Parasital Existence chegou perto de mim e disse “que banda foda!”, num bom português. Em palco a banda não reinventa nada, apenas emanou Blackened Speed/Thrash Metal em sua forma mais pura, com boa influência do velho Metal feito em terras brasileiras na década de 80, como ouvíamos no Vulcano, Sepultura, Sarcófago e até mesmo algo do velho Celtic Frost. Opressor Atômico, como bem disse, ainda se considera um músico amador, que sempre tá aprendendo, mas suas bases, riffs e, agora, inserção de solos, deixou a sonoridade do Carrasco mais violenta. Torturador segura bem nos graves, fazendo com que não haja lacunas no som, enquanto que Terror Holocausto, de forma simples, mas muito, muito eficiente, se encarrega de colocar ainda mais velocidade na sonoridade da banda. O ‘set list’ abrangeu toda a discografia da banda, com músicas do primeiro álbum, do mais recente álbum e um final foda, com um medley com as músicas de sua primeira Demo, “Massacre Bélico”, com Torturador fazendo os vocais em “Guerra”, “Massacre Bélico”, “Extermínio em Massa” e “Ataque Metal”, além da execução da “Intro” instrumental. Quero salientar que foi necessário um cara do público ir no palco, pegar o microfone, e dizer que “passo a semana toda, trabalhando numa porra de prensa a vapor, chego num show para me divertir e vejo esse povo de braço cruzado, sem agitar. Vamos agitar! Vamos apoiar!”. Daí em diante que houve mais agitação e até mesmo algumas rodas de mosh. Mas, enfim, poder ver novamente o Carrasco em ação é sempre uma enorme satisfação.
Entre músicas e agradecimentos, além do pequeno discurso crítico de um dos presentes, o show do Carrasco durou pouco mais de uma hora. Após isso, mais um intervalo para novos ajustes no som. Saliento que um dos problemas que venho percebendo ocorrem nos vocais, pois, geralmente, estão ficando muito baixos, em se comparando aos demais instrumentos. E isto também foi comentado por alguns dos presentes. Isso é outro ponto a se cuidar para eventos futuros.
A lendária banda paraibana Medicine Death seria a penúltima atração da noite. Cheguei a trocar cartas com um dos integrantes da banda, porém ele não faz parte da atual formação. Saliento que na época que cheguei a trocar correspondências, o Medicine Death já havia dado uma pausa em suas atividades, depois de lançar dois álbuns amplamente elogiados pela mídia Underground. Eu cheguei a ver o show de retorno da banda, que hoje traz em sua formação o fundador Williard Scorpion (baixo/vocal), além de Hálamo Reis (guitarra) e Pablo Ramires (bateria), na capital paraibana, em dezembro do ano passado. Como nunca tinha visto um show do Medicine Death antes de sua “hibernação”, pegar logo dois num espaço de tempo relativamente curto é uma grande satisfação. A banda relançou o seu primeiro disco, “Genetic Radioactive Experiments”, o qual eu já o tinha em vinil e peguei o relançamento em CD, que vem com diversos bônus. E nesse álbum foi feito o ‘set list’ dessa apresentação em Recife. Os vocais, cavernosos, de Williard estavam até que audíveis e ao vivo não deixam nada a desejar, seguindo praticamente o que foi feito em estúdio. E por falar em seguir o que foi feito em estúdio, é impressionante ouvir/ver temas como “Remembrances”, “Faces”, “The Clinic Trauma”, “Pandemonium”, sendo executados perfeitamente, como foram concebidos, porém trazendo um pouco mais da ‘garra’ e ‘punch’ ao serem executados ao vivo. A complexidade das músicas do Medicine Death, mesmo não sendo longas, também impressionam. Apesar de eu ter citado que ambos os discos tiveram um grande respaldo no Underground, uma parte do público não entendeu bem a proposta da banda, que estava bem além do seu tempo. Eu me arrisco a dizer que ainda continua além do nosso tempo. Classificar a sonoridade da banda é algo bem difícil. É Death Metal, com partes em ‘mid-tempo’, com andamentos, por vezes, fúnebres, numa linha bem Doom Metal, além de passagens que bebem em fontes da música progressiva. E olha que em nenhum momento falta peso na sonoridade do trio. Pelo contrário. A banda soa muito pesada, com seus riffs densos, linhas de baixo moribundas e uma bateria que vai de momentos de pura pancadaria, para ‘quebras’ de andamentos bem executadas. Ao fim do show até se pediu mais algumas músicas, porém o Medicine Death, em respeito a próxima banda e ao horário, decidiu por encerrar o show ali mesmo. E que show!
Último ajuste de palco/som. Troca de peças da bateria. O backdrop da próxima atração sendo hasteado e...
Já passávamos das 02h30 quando os uruguaios do Parasital Existence deram início ao seu show. A essa altura uma parte do público já havia debandado, mas quem ficou até o fim teve uma grata surpresa. E que surpresa! E que show... Foda! Eu havia ouvido o som da banda, mais precisamente o disco “Endless Torments”, por meio do YouTube. Achei bom, mas o que pude presenciar ao vivo foi muito além das minhas expectativas, do que eu esperava ser o show da banda. E olha que o pessoal que viu a banda ao vivo no Setembro Negro Festival deste ano teceu vários elogios, até mesmo dizendo que foi um dos melhores shows do festival. E isso pude presenciar, ali, nesta noite. O trio formado por Sargon (guitarra/vocal), Javier Ghidone (baixo) e Hector Montero (bateria), executando sons como “In Shadows We Trust”, “Possessed by Rage” (essa define bem o show do trio), “Welcome to Death”, “Horror Tales”, mostrou que mesmo fazendo um Death Metal bem influenciado por aquele Death Metal mais primitivo, feito na década de 90, não é uma banda burocrática. Pelo contrário. A energia emanada pelo trio fez com o que o público agitasse do início ao fim. E olha que, como mencionei, o número de presentes já era reduzido, mas agitou como todo o público deveria ter agitado desde o começo do evento. Não faltaram as típicas rodas de mosh, os bangin’ e os aplausos. Foi um show de pura energia, do primeiro ao último acorde, com o Parasital Existence agradecendo e mostrando satisfação por tocar pela primeira vez em terras pernambucanas. E se eu já estava querendo pegar o CD da banda, depois do show não tinha como deixar de pegar o material dos caras, que agora está soando ainda melhor do que quando ouvi pelo YouTube. O evento foi fechado de forma magistral, com os presentes tecendo vários elogios aos ‘gringos’.
O evento, como era de esperar, tendo em vista o histórico da produtora, começou no horário marcado, porém a reclamação ficou por conta dos grandes intervalos entre uma banda e outra. Com relação ao público, parece que já virou uma - triste - rotina, já que era esperado que o Darkside Studio ficasse lotado, uma vez que as atrações eram ótimas. No público, maioria era da ‘velha guarda’, faltando mais renovação.
Novamente digo que foi um evento bem organizado, mesmo que os intervalos entre bandas tenham sido longos. A sonorização e iluminação estavam boas, carecendo tão somente de uma melhoria nos microfones, para que os vocais fiquem mais audíveis. O ambiente do Darkside Studio, a cada evento, vem ganhando sempre mais melhorias, o deixando mais aconchegante para quem vai curtir os shows, principalmente a parte de climatização. Enfim, entre erros e acertos, o evento deixou a todos satisfeitos. Mas há de se salientar que o Underground precisa de um pouco mais de apoio, principalmente para os produtores que se esforçam para que os eventos aconteçam.