Evento: 40 anos de Destruction Data: 02/10/2024 Local: Armazém 14. Recife/PE
Bandas: - Sextrash (Death/Thrash Metal - MG) - Destruction (Thrash Metal - Alemanha)
Resenha por Valterlir Mendes
Fotos: Rosberg Rodrigues
Um show numa quarta-feira não é algo contumaz de ocorrer e, digo mais, algo bem arriscado para quem vai o produzir, afinal, não é só o público da cidade que comparece aos eventos. Nem mesmo o público das cidades vizinhas, como bem visto nesse evento que trouxe, pela sexta vez, o Destruction para a capital pernambucana. Notei que tinha diversas pessoas, não só de outras cidades de Pernambuco, mas, também, de Estados vizinhos, como Paraíba e Rio Grande do Norte. Outro fator interessante, que pude observar, foi que tinha muita gente da ‘velha guarda’ e um número diminuto de um público mais jovem, apesar de ter um pessoal dessa ‘leva’.
Como já mencionado, shows em uma quarta-feira não é algo corriqueiro, e esse foi um dos fatores que me fez pensar, até a última hora, se eu iria conferir o evento, pois viajar do interior, curtir o evento, pegar a estrada de volta e no outro dia ter que trabalhar não é nada fácil. Então, pensando não só em mim, mas nas demais pessoas que pretendiam ir, e juntando-se o fator dia da semana e valor do ingresso, algumas pessoas não foram em razão de tais empecilhos.
Peguei a estrada a partir das 17h30, saindo de minha cidade, juntamente com o amigo Rosberg Rodrigues - que também foi o responsável pelas fotos que ilustram essa matéria -, com um pequeno problema no farol do carro, mas algo não grande e que não nos impediu de ir e voltar numa boa. O problema de pegar a estrada, ver show, mas ir dirigindo, é justamente não poder tomar algumas cervejas. Se bem que o valor da cerveja estava num patamar de alguma boate de playboy. Algo que não é a realidade do sofrido Metalhead. Sobre valores, até pensei em pegar algo do merchandising das bandas, mas os valores me fizeram desistir da ideia.
Inicialmente programado para ter início às 20h00, apenas às 20h40 o Sextrash deu início a sua apresentação. Apesar de ser uma banda clássica do Metal mineiro, Sextrash não é uma banda que me aprofundei na sua sonoridade, mas, claro, conheço os clássicos lançamentos como “XXX” (EP de 1989) e “Sexual Carnage” (primeiro álbum, de 1990). Da formação original, a banda conta com o baixista Krueger e o guitarrista Rodrigo “Damned Sentry”, que são acompanhados do vocalista Doom e do baterista Márcio Jameson. O ‘set list’, apesar de curto, contou com músicas de diversas fases. Como mencionei, não conheço bem o som do Sextrash, mas, pelo que eu me lembre, executaram músicas como “Delirium Tremens”, “Seduced by Evil”, “Funeral Serenade”, “Rape From Hell” e “Alcoholic Mosh”. Sonoramente, a banda segue uma linha bem ortodoxa do Death/Thrash Metal, o que nos remete aos primórdios do Metal Extremo mineiro. A sonorização estava muito boa, tudo bem audível. O palco sem muita firula, trazendo um backdrop da banda e flâmulas de ambos os lados. Doom, com uma pintura negra no rosto, por vezes se comunicou com o público, agradecendo aos presentes. O público, pequena parte, ainda se arriscou nas rodas de mosh. O ‘set list’ do Sextrash durou cerca de 35 minutos e serviu para aquecer os presentes.
Pelo horário do término do primeiro show, pensei que a entrada da banda principal ocorreria de forma mais rápida, afinal, a qualidade sonora estava muito boa e o palco praticamente montado, já que havia uma segunda bateria para a principal atração da noite. Mas não foi bem assim, e o público teve que esperar por praticamente uma hora pelo show seguinte.
Então era chegada a hora de o Destruction, novamente, tocar na capital pernambucana e, após a lendária “intro”, já bastante conhecida dos admiradores dessa lenda do Thrash Metal alemão, vem a mais que clássica “Curse the Gods”, seguida de uma sequência devastadora: “Invincible Force”, “Nailed to the Cross” e “Mad Butcher”, dando quase nenhum tempo para o público respirar. A banda foi ovacionada e o público brindado com uma sonorização muito, muito boa mesmo, nos trazendo todo o peso colossal do Destruction, agora ainda mais pesado por ser um quarteto, que além de Schmier (vocal e baixo), tem Damir Eskić e Martin Furia nas guitarras e Randy Black na bateria. E a banda demostrou, nesse show inicial de sua turnê brasileira de 40 anos, que ainda tem muita lenha para queimar e muito Thrash Metal para destilar. O público, a sua maneira, agitava, formando roda de mosh e batendo cabeça. Não tão grande como já nos shows anteriores da banda, mas mantendo a energia lá em cima. A sequência do show veio com “Life Without Sense”, e é quando a banda sai do palco, pela primeira vez e uma nova “intro” começa a rolar, apenas para ser precedida por mais um clássico: “Release From Agony”. Ficou bem notório que as duas guitarras deram mais corpo a música da banda, mas, claro, por vezes se sentia a falta da figura lendária do guitarrista Mike Sifringer. Mas Damir e Martin cumprem bem seu papel, seja nos riffs ou nos solos, solos esses, por vezes, feitos de forma conjunta. Schmier sempre transborda carisma em palco e tem presença forte, seja nos vocais, nos graves do baixo ou nos seus típicos agudos. A bateria está monumental, com levadas velozes e insanas. O palco, além do enorme backdrop, também contou com belas flâmulas em ambos os lados, com a típica caveira símbolo da banda, numa versão mais “exterminador do futuro”. Apesar de fazer um ‘set list’ focado nos velhos clássicos, a banda também executou músicas mais recente, como foi o caso de “Armageddonizer”, que tem uma pegada mais cadenciada, melódica, eu diria. Mas, claro, na sequência voltaram aos clássicos, e “Total Desaster” serviu, mais uma vez para liberar o mosh. Nova saída do palco, apenas ficando Damir Eskić, que deu início a um solo de guitarra, logo seguido por Martin Furia, que dividiu o solo. Na sequência, com a entrada de Randy Black, deram início a uma instrumental, a qual antecedeu a furiosa “Eternal Ban”. Mosh em alta novamente! A nova “No Kings – No Masters” foi “oferecida” por Schmier aos políticos ao redor do mundo, e manteve o mosh em alta, com Schmier mandando um grande foda-se aos políticos (bem a calhar nesse período no Brasil). E tome mais clássico! Dessa vez para “Death Trap”, que ganhou mais no peso, em razão das duas guitarras. Mais uma saída do palco, luzes apagadas, mas ainda não era o fim do show. Nova “intro” e a banda volta com... Agudos de Schmier, os quais prenunciam “Diabolical”, faixa-título do mais recente álbum de estúdio do Destruction. Na sequência, tome “Thrash Attack”, música instrumental, lá dos primórdios da banda. Grata surpresa, pois eu não esperava que ela fosse executada. E eu que pensei que seria um ‘set’ mais ‘enxuto’, devido ao show ser numa quarta-feira, mas a banda caprichou nos clássicos, além de inserir alguns sons novos. O fim estava perto e executaram “Bestial Invasion”. E quando Schmier pergunta se querem “una más”, mandam “Thrash Till Death”, um verdadeiro hino do estilo, que fechou magistralmente mais uma passagem destruidora (o trocadilho foi inevitável) do Destruction por terras pernambucanas. O show durou cerca de uma hora e vinte minutos e agradou em cheio a todos os presentes.
O público não foi exatamente um grande público, pois o Armazém 14 é enorme e lotar aquele local não é algo fácil, ainda mais no meio da semana. Mas, falando do meu ponto de vista, não foi tão decepcionante o número de pessoas que compareceu. Claro, sempre se espera bem mais gente, mas vamos levar em conta tudo que envolveu este show (dia da semana, valores dos ingressos). Enfim, a satisfação de quem pode mais uma vez ver o Destruction ao vivo, ou até mesmo ver a banda pela primeira vez, estava estampada no rosto de cada um.